LISBOA — Nos primeiros anos de vida, o Gympass já começou a internacionalizar sua plataforma de wellness, entrando em diversos países da América Latina.
Já o Descomplica, hoje com mais de dez anos de estrada, ainda sequer pisou fora do Brasil.
As estratégias opostas das duas startups de sucesso resumem um dilema clássico no mundo do venture capital: internacionalizar ou não?
No Brasil, chegar a uma conclusão é ainda mais difícil dado o tamanho do mercado.
Como as startups nascem em meio a mais de 200 milhões de clientes potenciais, “expandir internamente já é quase como uma internacionalização,” disse Fabiana Fagundes, fundadora do FM/Derraik, um escritório de advocacia especializado em startups, num painel aqui na Web Summit.
O problema é que, algumas vezes, isso deixa as startups acomodadas e acontece igual “a história do sapo na água, que vai ficando confortável, confortável, mas a água está esquentando…” diz Victor Ribeiro, o vp de desenvolvimento de produtos do Gympass.
Para eles, alguns fatores têm que ser levados em conta na hora de tomar a decisão: seu produto tem um fit global? Qual o tamanho do mercado em que você opera? E qual o momento de sua startup?
O Descomplica se fez exatamente essas perguntas para decidir não sair de onde estava.
“Para mudar de fato a educação no Brasil, vimos que precisávamos ficar extremamente focados,” disse o COO Roberto Grosman. “Além disso, a educação é muito específica em cada país. Antes de ir pra lá, precisamos entender bem o problema de educação que podemos resolver em cada um desses outros mercados.”
Mas você não acorda à noite suando frio com medo de perder o timing?, questionou Domingos Cruz, da CCA Law.
“Todo dia tem notícias de startups fazendo um monte de coisas, levantando dinheiro, expandindo para outros países… É natural que às vezes você sinta esse ‘fear of missing out’, mas como empreendedor você não pode ser guiado por isso. Temos que ter certeza que estamos fazendo as coisas muito bem [no Brasil] antes de dar um passo desses.”
Perder o foco é justamente uma das maiores preocupações das startups quando discutem a internacionalização.
Para Victor, isso é inevitável, e faz parte do processo. “Você vai ter que dividir o seu foco mesmo, e às vezes deixar o mercado local de lado pra prestar atenção nos mercados internacionais. Mas isso não deve ser uma preocupação. Se você está preocupado em perder foco, é melhor não internacionalizar.”
Para ele, uma das principais avaliações na hora de entrar em outros mercados é o cenário competitivo — mas nem sempre ter um player dominante é sinônimo de abandonar os planos.
“Você tem que pensar como no jogo War,” disse ele. “Se você não for para um país porque tem um competidor muito forte lá, isso pode ser um tiro no pé, porque ele vai conseguir acumular mais ‘tropas’ lá e em algum momento vocês vão ter que bater de frente. As vezes é melhor entrar antes, mesmo com a competição.”