A Gênica — uma startup de bioinsumos fundada nove anos atrás em Piracicaba — acaba de levantar R$ 68 milhões numa rodada liderada pelo Mitsubishi Group, a holding japonesa que tem negócios no mercado de defensivos e fertilizantes.
A rodada Série C também teve a participação da SP Ventures, que já era investidora da startup, e da Vox Capital.
A Mitsubishi ficou com uma participação de menos de 10% do capital da Gênica, mas o valuation não foi divulgado.
Fundada por um pesquisador da área de biologia molecular da Esalq-Usp, Carlos Labate, e um empreendedor serial do agro, Fernando Reis, a Gênica atua com o desenvolvimento de soluções para o agronegócio usando a biotecnologia – e já é uma das cinco maiores empresas de biológicos do País, junto com a holandesa Kopperti e as brasileiras Simbiose, Biotrop e Vittia.
Hoje a empresa vende 18 produtos diferentes, mas 75% de sua receita vêm dos biodefensivos, que são usados para substituir ou complementar a atuação dos defensivos químicos no controle de pragas e doenças nas plantações. Outros 15% vêm dos chamados inoculantes, que ajudam na nutrição dos solos, e os 10% restantes vêm dos bioestimulantes, que têm uma atuação parecida à dos fertilizantes químicos.
A Gênica faturou R$ 130 milhões no ano passado e espera aumentar seu top line em 70% este ano para R$ 230 milhões. A empresa opera com EBITDA positivo desde 2019.
O CEO Marcos Petean disse ao Brazil Journal que a startup decidiu fazer a rodada porque “a natureza do nosso negócio tem uma demanda de capital muito relevante.”
“70% do nosso mercado é soja e milho, que são culturas em que a dinâmica do ‘prazo safra’ é uma realidade,” disse ele. “A indústria de insumos acaba financiando o produtor: eles compram da gente e só pagam em 180-200 dias, depois que a safra é colhida e vendida.”
Essa dinâmica, aliada ao crescimento acelerado da Gênica (que tem dobrado de tamanho todos os anos desde 2019), torna a necessidade de capital muito grande.
“Para não endividar o negócio mais do que achamos saudável, é importante crescer um pouco com equity também,” disse ele.
A Gênica tem se financiado com dívida bancária nos últimos anos — ela levantou R$ 100 milhões desde fundação com bancos — e hoje tem uma alavancagem de pouco menos de 1x EBITDA. A startup também já levantou equity anteriormente: foram R$ 50 milhões em outras três rodadas, a última em 2022.
A Gênica opera num mercado em franca ascensão. No Brasil, os biodefensivos e inoculantes já movimentam US$ 1 bilhão por ano, e crescem numa média de 30% a 40% ao ano. Já o mercado de defensivos químicos movimenta cerca de US$ 15 bi, e o de fertilizantes químicos, de US$ 20 a US$ 25 bi.
“Dentro do conceito de manejo integrado das pragas, o insumo biológico é um pilar fundamental. Mas não temos a visão de que o biológico vai ocupar 100% do mercado do químico. Ele deve ocupar uns 50% no médio/longo prazo, o que já seria um crescimento gigantesco,” disse o CEO.
Segundo ele, além do benefício de sustentabilidade, os defensivos biológicos têm algumas vantagens em termos de eficiência em relação aos defensivos químicos — principalmente no tratamento de doenças de solo e de nematóides de modo geral.
“A decisão dos agricultores está pautada na rentabilidade. É claro que tem ventos a favor que ajudam, como certificações que acabaram proibindo algumas moléculas químicas com um alto nível de toxicidade, mas o que faz ele decidir pelos biológicos é ele ver que a conta fecha e que a eficiência é muito boa.”