WARNING: Essa matéria pode ser dura de ler para todo mundo que tem mais de 40 anos e se acostumou com um mundo em que as moedas são autorizadas por bancos centrais.
A Hashdex acaba de iniciar a captação para o primeiro ETF do mundo focado no tema de finanças descentralizadas (DeFi) – um nicho ainda incipiente mas com o potencial de transformar o mercado financeiro.
A gestora quer levantar R$ 500 milhões para o DEFI11. A oferta, que começou hoje, está sendo coordenada pela Genial (líder), XP e Itaú BBA.
A expectativa da Hashdex é fechar a captação em fevereiro, quando o ETF deve começar a negociar na B3.
Basicamente, o termo ‘finanças descentralizadas’ designa uma série de tecnologias e aplicações baseadas em blockchain e nos chamados ‘contratos inteligentes’ que permitem a criação de uma nova infraestrutura para os serviços financeiros tradicionais.
Hoje, existem dezenas de protocolos DeFi focados em diferentes mercados.
Um desses protocolos, por exemplo, é o Uniswap, criado para viabilizar uma exchange descentralizada. Ao negociar criptoativos no Uniswap, não é a exchange que fica com a custódia do ativo, e sim o próprio investidor – o que corta o intermediário, reduz custos e, em tese, aumenta a segurança do investidor.
Nesse modelo, são ‘contratos inteligentes’ registrados na blockchain que validam a operação e garantem que a custódia do ativo é do usuário X e não do usuário Y.
Outro protocolo DeFi, o Compound, viabiliza empréstimos peer to peer colaterizados sem a necessidade de intermediários para validar as operações (tudo é feito também na blockchain por meio de contratos inteligentes). Pelo menos por enquanto, o Compound permite apenas uma alavancagem limitada a 1:1 – ou seja, um empréstimo de R$ 100 mil exige um colateral de pelo menos R$ 100 mil em criptomoedas.
A solução é ideal para quem já tem criptomoedas – já que elas são o único colateral aceito – e a grande vantagem é a taxa de juros, que tem girado em torno de 1% ao ano, enquanto um empréstimo pessoal tradicional custa no mínimo 1% ao mês.
O ETF da Hashdex vai investir boa parte do capital nesses protocolos de DeFi, que hoje são negociados na forma de tokens nas principais exchanges do mundo (da Coinbase a Binance).
O ETF vai seguir o CF DeFi Modified Composite Index – um índice desenvolvido em parceria com a americana CF Benchmark, que é um dos principais provedores globais de índices cripto.
O índice será composto 70% por protocolos DeFi (por exemplo, o Compound e o Uniswap), 15% pelos chamados protocolos de suporte – que basicamente são serviços não-financeiros que dão suporte aos protocolos DeFi, como provedores de dados e de verificação de identidade – e 15% pelos plataformas de registro, os blockchains onde as transações são validadas (neste caso, o ETF vai investir apenas no Ethereum).
A ideia por trás do ETF é capturar o crescimento dos maiores protocolos de DeFi do mundo, que ainda estão em sua infância. O Uniswap, por exemplo, vale US$ 13 bilhões, o Compound, US$ 1,6 bi, e o Maker (outro protocolo que vai integrar o índice), US$ 2,8 bi.
Para efeito de comparação, o Ethereum tem um market cap de US$ 516 bilhões e o Bitcoin, de cerca de US$ 2 trilhões.
A tese do investimento é que o valor de mercado desses protocolos DeFi tende a crescer ao longo do tempo conforme eles passem a ser adotados com mais frequência – podendo eventualmente substituir a infraestrutura do mercado financeiro atual.
O DEFI11 é o quarto ETF de criptoativos da Hashdex. O HASH11, lançado pela empresa em abril passado, acaba de superar o BOVA11 (o ETF que acompanha o Ibovespa) em número de investidores.