A Vitru — a líder do mercado de educação à distância no Brasil com as marcas UniAsselvi e UniCesumar — vai migrar suas ações da Nasdaq para a B3, um movimento inédito na história do mercado de capitais brasileiro.
A companhia fez seu IPO em setembro de 2020, quando foi avaliada em US$ 350 milhões vendendo suas ações a US$ 16.
Três anos depois, o papel negocia no mesmo patamar — fechou hoje a US$ 16,10 — apesar da companhia ter multiplicado sua receita por 3,7x, para R$ 1,8 bilhão, seu EBITDA por 5,5x, para R$ 653 milhões, e sua base de alunos por 3,5x, para 900 mil.
O CEO William Matos disse ao Brazil Journal que a migração para a B3 vai permitir acessar mais investidores que conhecem o negócio, ao mesmo tempo em que a companhia vai conseguir manter sua base de acionistas estrangeiros — já que esses fundos têm mandato para investir globalmente.
A ida para a B3 também deve facilitar a realização de um follow-on futuro, que a empresa tem estudado tanto para reduzir sua alavancagem quanto para aumentar a liquidez do papel.
Hoje, o free float da companhia é de apenas 22%, mas boa parte disso (16,9%) está nas mãos da Compass Group, uma gestora global de origem chilena. A ação negocia, em média, US$ 500 mil por dia (cerca de R$ 2,5 milhões).
“Em 2020, como já tínhamos o foco no digital, a gente avaliou que ir para a Nasdaq seria melhor, porque o Brasil tinha muitas empresas focadas no presencial e não queríamos que os investidores comparassem nosso negócio com essas companhias,” disse William.
“Mas hoje no Brasil já tem muita gente que conhece e adora a história da Vitru. Mas como a ação tem baixa liquidez e é listada lá fora, muita gente não consegue montar posição porque tem restrição de liquidez ou de investir fora do Brasil. Com a migração para a B3, abrimos caminho para isso.”
A migração vai ser feita com uma incorporação reversa. Hoje, o veículo listado na Nasdaq é a Vitru Limited, que é dona de 100% da Vitru Brasil, a holding operacional.
Para a migração, a Vitru Brasil vai listar no Novo Mercado da B3 e incorporar a Vitru Limited.
Com o movimento, todos os acionistas da Vitru Limited vão receber ADRs da Vitru Brasil na mesma proporção de suas participações. Essas ADRs poderão ser convertidas em ações.
Além da Compass, os maiores acionistas da Vitru são a SPX Carlyle, com 18,5%, a Vinci, com 17,3%, as famílias que eram donas da UniCesumar, com 16,6%, a gestora americana Neuberger Berman, com 12,9%, e a Crescera Capital, com 11,4%.
O CFO Carlos Freitas disse que não vê uma diferenciação em termos de múltiplos por ter a ação listada na Nasdaq — normalmente um dos principais argumentos de empresas que optam por listar nos Estados Unidos.
A Vitru negocia hoje a cerca de 7x EV/EBITDA, em linha com empresas como a Cogna e Yduqs, mas com um prêmio em relação a Ser.
“E nossa capacidade de diferenciação no Brasil é muito maior, porque somos diferentes dos nossos concorrentes,” disse William. “Somos o único focado no mercado digital, que é o que mais cresce na educação, e temos um modelo mais leve e mais gerador de caixa.”
Dos 900 mil alunos da Vitru, 880 mil estão no EAD e apenas 20 mil no presencial (em cursos como medicina, odontologia e diretoria, que o MEC obriga que sejam presenciais). Em termos de receita, o EAD responde por 80% do top line.
A Vitru também não tem nenhuma correlação com o FIES, já que dos 20 mil alunos presenciais só 500 vieram pela programa educacional. (O FIES não financia graduações à distância).
Sobre um potencial follow-on, o CFO disse que a Vitru não tem necessidade de fazer uma oferta agora, já que a alavancagem da companhia vem reduzindo gradativamente pela geração de caixa (que reduz a dívida) e pelo crescimento do EBITDA.
A alavancagem fechou o segundo trimestre em 3,3x, em comparação aos 3,9x do tri anterior e 5,1x de dezembro. Segundo Carlos, a estimativa é que ela caia para 3x em dezembro, e continue reduzindo ao longo do ano que vem.
“A gente consegue viver com essa dívida e ir desalavancando aos poucos,” disse ele. “Mas se tiver uma oportunidade é claro que podemos acelerar esse processo de desalavancagem com um follow-on.”
Outra possibilidade que foi levantada pelo mercado recentemente seria a venda do negócio de medicina da companhia. William diz que se essa venda acontecer não seria por uma questão de alavancagem, mas sim por estratégia. “É um ativo muito premium. Somos a quinta maior empresa de medicina. São mais de 2 mil alunos só em Maringá,” disse ele.
A expectativa da Vitru é que a migração para a B3 seja concluída até o final deste ano ou, no máximo, no primeiro trimestre do ano que vem.