O clima na Faria Lima “não poderia ser pior” e lembra o ambiente de 2015, logo depois da reeleição de Dilma Rousseff e pouco antes da crise que derrubou o PIB brasileiro dois anos seguidos. 

A leitura é de Eduardo Rosman, o analista de financials do BTG Pactual, depois de se encontrar com investidores nas últimas semanas.  Num relatório publicado hoje com atualizações sobre o setor – e apropriadamente batizado de “Vibe Pesada” – Rosman diz que a situação é peculiar, já que a economia continua performando bem. 

Mas “no final do dia, o EWZ está em queda de 19% desde o início do ano, as curvas de juros estão precificando taxas maiores, e o real perdeu 7% de seu valor nos últimos 50 dias. Parece que os mercados estão precificando uma desaceleração forte da economia adiante, e há uma frustração crescente em relação ao mercado de ações brasileiro, levando os locais a investirem cada vez mais lá fora,” escreveu Rosman. 

Piorando as coisas, boa parte dos fundos (tanto de ações quanto multimercados) estão performando abaixo de seus benchmarks, o que tem potencializado o clima negativo na Faria Lima. 

Neste ambiente, Rosman diz que para atrair o buyside, uma ação tem que ter quatro características: um múltiplo baixo; resultados operacionais crescentes; um dividend yield alto; e ser um negócio simples,  fácil de modelar e com baixo risco de disrupção. 

“Se você consegue dar check em todos esses ‘boxes’, você está relativamente a salvo,” diz o analista. “No setor financeiro, incluímos neste grupo o Itaú, Banco do Brasil, BB Seguridade e a Porto (a última é um pouco menos porque ela está expandindo muito em saúde).”

Se a empresa não estiver dando check em todos esses boxes, no entanto, uma tendência de crescimento de lucro é essencial.

“A XP, por exemplo, não tem um momentum de lucros, não está cara (mas a 12x lucro, não se pode dizer que esteja barata também), e é um negócio complexo (desafiado pelos bancos, com o management lutando para gerar alfa, e se tornando um negócio que demanda mais capital).”

Por outro lado, Rosman disse que as empresas de pagamentos (PagSeguro e Stone) estão “baratas”, e que confia em seu crescimento dos lucros. 

“No entanto, é um setor complexo, e o mercado tem dúvidas claras sobre o seu futuro. Lá fora, também não ajuda, com os players globais de pagamentos negociando na mínima histórica.”

O analista também falou sobre o Inter. Para ele, a ação não está mais barata do que a XP, mas o banco tem um forte momentum de lucros, com os resultados batendo as expectativas do mercado nos últimos trimestres e um ROE crescente. 

“Além disso, o Inter está ‘protegido’ por um tema forte, com muitos bancos digitais ao redor do mundo chegando no breakeven, provando que o modelo de negócios funciona. Por fim, ter o Nubank como peer também não machuca, já que o Nubank negocia a 8,8x book e subiu 40% em dólar este ano.”

Levando em conta todos esses fatores, para Rosman o papel do Inter “tem mais chances de funcionar” do que a XP até o final do ano.