A Vale acaba de vender uma participação de 13% em seu negócio de base metals — numa transação que avalia a subsidiária em US$ 26 bilhões e a um múltiplo substancialmente maior que o da mineradora.
A maior parte do investimento foi feito pela Manara, uma JV entre o PIF, o fundo soberano da Arábia Saudita, e a Ma’aden, a empresa de mineração do reino. Essa JV está colocando US$ 2,6 bilhões e ficando com 10% do capital.
O restante está vindo da Engine No.1, a gestora ativista americana controlada por Chris James que recentemente engajou numa agenda pró-ESG dentro da Exxon. A Engine ficou com 3% da Vale Base Metals, como a empresa foi batizada.
Os recursos vão ajudar a bancar um plano agressivo de expansão que envolve triplicar o negócio de cobre da Vale e dobrar o de níquel em 10 anos. No total, a Vale estima que o capex para esse crescimento vai girar em torno de US$ 25 bilhões (cerca de R$ 100 bi ao câmbio de hoje).
A Vale Base Metals opera num mercado que ficou mais sexy nos últimos anos com o processo de eletrificação da economia. Tanto o cobre quanto o níquel são usados, por exemplo, na fabricação das baterias dos carros elétricos.
A transação implica um múltiplo de 10x EV/EBITDA 2023, acima do múltiplo médio de players listados desse setor, como a Freeport McMoran, GMEX e Boliden, que negociam a cerca de 8x.
O valor também é um prêmio relevante em relação ao múltiplo da própria Vale, que negocia a cerca de 4x.
A transação inclui um contrato de offtake proporcional à participação comprada por cada investidor no negócio. Em outras palavras, a Manara terá direito de comprar 10% de toda a produção de cobre e níquel da Vale Base Metals, e a Engine No. 1, 3%.
Esse contrato de offtake foi um dos aspectos que havia atraído companhias como a General Motors para o processo competitivo.
O negócio de base metals da Vale foi criado há 15 anos com a compra da Inco, a mineradora canadense de níquel; hoje, o negócio responde por cerca de 15% do EBITDA da companhia. A Vale Base Metals tem minas em Carajás (principalmente de cobre), na Indonésia e no Canadá, onde está concentrada a produção de níquel.
A Vale já é uma das duas maiores produtoras de níquel do mundo, junto com a russa Norilsk, que está sofrendo por conta da guerra na Ucrânia. Em cobre, a multinacional brasileira tem uma produção relevante mas ainda longe dos líderes globais: cerca de 350 mil toneladas por ano em comparação a 1 milhão de players como a Freeport e a Glencore.
Ainda assim, o negócio vem crescendo nos últimos anos menos do que a empresa desejava — em grande parte por uma falta de foco.
“É um negócio grande, mas que dentro da Vale acabou ficando pequeno,” uma fonte próxima à empresa disse ao Brazil Journal. “Se a Vale continuasse tocando como uma subsidiária, competindo por recursos e atenção do minério de ferro, o negócio ia ter dificuldade de avançar.”
Com o carve out, a expectativa é que a Vale Base Metals consiga crescer mais que o negócio de minério nos próximos anos, ganhando share no EBITDA total da companhia.
Segundo a fonte, a Vale estima que o negócio pode passar a representar de 30% a 40% do EBITDA no médio prazo.
A Vale Base Metals será comandada pela executiva sulafricana Deshnee Naidoo, que já era a vp responsável pelo negócio, e recentemente formou um conselho independente.
O board tem três indicados pela Vale (o CEO Eduardo Bartolomeo, o CFO e a vp de pessoas, Marina Quental), além de Mark Cutifani, o ex-CEO da Anglo American que teve um papel central na costura da transação de hoje, e Jerome Gullien, que trabalhou uma década na Tesla e era um dos homens de confiança de Elon Musk.
Num mercado dominado pela transição energética, a demanda não é um problema para a Vale Base Metals. “O grande risco é não ter oferta para suportar a transição energética. O problema do setor é ter projetos suficientes,” disse a fonte.
Nesse sentido, a Vale tem a vantagem de ter muitos direitos minerários para serem explorados em três das cinco principais províncias minerais do mundo — Carajás, Indonésia e Canadá. Em outras palavras, ela não precisa de M&As para expandir sua produção.
É por este potencial substancial de crescimento que a companhia está sendo avaliada a um múltiplo muito maior que o da Vale, mesmo tendo uma margem EBITDA bem menor que a do minério de ferro.
Enquanto a Vale tem uma margem EBITDA de cerca de 50% no minério, em ‘base metals’ essa margem gira em torno de 20%.
Bank of America foi o assessor exclusivo dos investidores árabes.
BTG Pactual assessorou o Engine No. 1.
Goldman Sachs assessorou a Vale.