No mercado de carne bovina plant-based, a Beyond Meat e a Impossible Foods conseguiram virar sinônimo da categoria.
Mas quando se fala de frango, ninguém está nem perto de chegar lá.
Uma startup de Singapura percebeu esse vazio e está tentando ocupar o espaço – dominando uma categoria que ainda não recebeu tanta atenção dos players do setor, apesar de ser a proteína mais consumida do mundo e também a que mais cresce.
“Algumas marcas plant-based lançaram nuggets, tenders e tirinhas de frango, mas ninguém fez um filé de frango plant-based que de fato simule o frango de verdade,” o cofundador da NextGen, o brasileiro André Menezes, disse ao Brazil Journal. “Tem um espaço em branco enorme no mundo que queremos ocupar.”
Para executar seu plano, André e seu sócio, o alemão Timo Recker, acabam de levantar uma Série A parruda, de US$ 100 milhões.
O cheque veio de um pool diverso de investidores, uma lista que inclui o Temasek; o EDBI, um braço de investimentos do governo de Singapura; a GGV Capital, do investidor Hans Tung; a K3 Ventures, um fundo tech de Singapura; e a chinesa Bits X Bites, focada em foodtechs.
Também entraram na rodada os fundos Alpha JWC, da Indonésia; e o MPL Ventures, do Reino Unido.
A captação é a segunda da história da NextGen, que começou a operar há apenas um ano, usando a marca Tindle. Na rodada seed, a startup levantou US$ 30 milhões em duas tranches (e foi avaliada em US$ 180 milhões post-money na última).
André acredita que o frango ainda não recebeu tanta atenção das empresas de plant-based pela dificuldade de criar um produto de qualidade.
Segundo ele, o frango tem três elementos fundamentais que combinados são muito difíceis de atingir: as fibras, a gordura, e a versatilidade de usos.
“O frango não pode ter a aparência de carne moída, ele tem que ter fibras. Além disso, simular a gordura do frango é mais difícil que a da carne, porque ela fica nas fibras, então não basta jogar pedacinhos de gordura de coco como na carne,” disse o fundador. “O terceiro ponto chave é a versatilidade: se você quer que um chef de cozinha use seu produto, não dá pra fazer ele em forma de nugget ou de tirinhas.”
A NextGen é a junção da experiência de dois empreendedores com backgrounds complementares. André trabalhou por anos numa JV da BRF em Singapura, onde era responsável por distribuir os produtos da gigante brasileira no país asiático. Quando deixou a companhia para fundar a NextGen, ele já era o CEO da empresa.
Já seu sócio, Timo, é um empreendedor que fundou e vendeu outra startup de plant-based, a Like Meat, que operava principalmente na Alemanha e fabricava um portfólio completo de carnes plant-based. A empresa foi vendida em 2020 para a Livekindly, uma holding sueca de marcas plant-based.
A NextGen já está em mais de 200 pontos de venda em cinco países: Singapura, Emirados Árabes, Holanda, China e Malásia.
A estratégia de go-to-market é diferente de boa parte das empresas de alimentos. Num primeiro momento, a startup está focando apenas no foodservice, e só depois pretende entrar em supermercados.
“Não é uma estratégia convencional, porque no curto prazo a receita não cresce tanto. Mas o melhor caminho é fazer as pessoas entenderem o produto antes,” disse o fundador. “Queremos mostrar que esse é um produto top de qualidade, e não só mais um frango plant-based na prateleira.”
Depois que a marca começar a ficar conhecida, aí sim a NextGen deve começar a entrar nos supermercados – com condições de negociação muito melhores que agora.
A NextGen vai usar os recursos da rodada para criar um centro de pesquisa em Singapura junto com uma subsidiária da Temasek, desenvolver o produto e entrar nos Estados Unidos por meio de uma parceria com a Dot Foods, uma das maiores distribuidoras de alimentos do país.
André acha que, já este ano, os EUA devem responder por cerca de 80% da receita. Os próximos mercados no radar da empresa: a Europa e o Brasil.