A Unipar reportou mais um trimestre com resultados pressionados pelo ciclo de baixa do setor petroquímico — com os preços do PVC e da soda cáustica em níveis historicamente baixos com uma demanda ainda fraca de seus principais clientes.
Do lado positivo, o cloro — que representa cerca de 20% da receita da companhia — continuou em alta, com uma demanda robusta das empresas de saneamento por conta de novos projetos e das exigências do Marco Legal do Setor.
Esse cenário se refletiu numa receita de R$ 1,36 bilhão, 3,5% acima do trimestre anterior, mas 29% abaixo do mesmo período do ano passado.
O EBITDA também sofreu, caindo 23% na comparação sequencial e 56% na anual, para R$ 282 milhões.
Apesar da queda, o CFO Marco Rabello disse ao Brazil Journal que a margem EBITDA da companhia, de 21%, “é uma margem super resiliente num ano de baixa do ciclo” e a “melhor margem entre todos os peers nacionais e globais.”
Ele notou ainda que a conversão de EBITDA em caixa continua “muito eficiente” — de 1 para 1 — o que tem permitido que a companhia mantenha sua posição de caixa líquido. No terceiro tri, o caixa superou as dívidas da Unipar em R$ 260 milhões.
Já o lucro líquido ficou em R$ 190 milhões, uma alta de 2,4% na comparação com o segundo tri e uma queda de apenas 3,5% na comparação anual.
Mas o lucro foi beneficiado por dois fatores não-recorrentes: a companhia usou um crédito fiscal da Lei do Bem pelos gastos que teve com pesquisa e desenvolvimento; e teve um crédito pela decisão judicial que excluiu a receita com a Selic da base de cálculo do imposto de renda. Esses dois fatores somados geraram um benefício de R$ 79 milhões.
O CFO explica que o benefício da Selic é um one-off, mas que o crédito fiscal da Lei do Bem acontece todos os anos. O benefício deste tri foi referente ao gastos com P&D do ano passado. Segundo o CFO, o benefício referente aos gastos deste ano já deve entrar no P&L do quarto tri.
O mercado de PVC, que responde por 47% do top line da Unipar, tem sofrido basicamente pela alta dos juros e a inflação, que afetam diretamente o mercado de construção civil — o principal comprador do produto, usado para fazer tubos e conexões.
A demanda fraca tem afetado os preços internacionais, que tem ficado num patamar historicamente baixo desde o início do ano.
O CEO Mauricio Russomanno disse que no terceiro trimestre houve uma leve recuperação do preço por conta de uma restrição na oferta. Segundo ele, parte da capacidade de produção global esteve fora do ar, “então houve uma ligeira subida de preços.”
O mercado de soda cáustica — que responde por 34% da receita — também tem sofrido, mas por uma dinâmica diferente. O produto, que é usado por diversas indústrias (como aço, mineração e papel e celulose), é extremamente dependente da atividade industrial, que tem sofrido com uma redução relevante de demanda pelo cenário macroeconômico global.
Mauricio disse que o pico do preço da soda foi no final do ano passado e, de lá para cá, ele vem caindo todos os meses. No terceiro trimestre, o preço caiu, mas atingiu uma certa estabilização no último mês do trimestre.
A utilização das fábricas da Unipar se manteve praticamente estável no trimestre, com uma pequena queda de 1% na comparação sequencial, para 81%.
Essa queda teve a ver basicamente com algumas manutenções que a Unipar teve que fazer, por exemplo na planta de Bahia Blanca, na Argentina.
O trimestre foi beneficiado pela entrada em operação da expansão da fábrica da Unipar em Santo André, que aumentou em 15% a capacidade produtiva. A próxima expansão que vai entrar em operação é a planta de Camaçari, que deve começar a funcionar no segundo semestre de 2024 e será focada no mercado de saneamento.
“Estamos tendo que compensar a queda dos preços com volume — achando novos mercados e novos clientes,” disse o CEO.
Com um caixa líquido de R$ 260 milhões, Mauricio disse que a Unipar está olhando diversas oportunidades de expansão, incluindo a entrada em produtos adjacentes dentro do mercado de petroquímica e a aquisição de concorrentes.
A companhia chegou a fazer uma oferta de R$ 10 bilhões pela Braskem, mas as negociações esfriaram nos últimos meses.
Em outubro, a Unipar também levantou uma debênture de sete anos, de R$ 750 milhões, para fazer frente aos vencimentos de dívidas que tem em 2024 (R$ 344 milhões) e em 2025 (R$ 194 milhões).
A companhia vale R$ 7,5 bilhões na B3.