A Princeville Capital — uma gestora de São Francisco com foco em tecnologia — estruturou um fundo especializado em mudança climática, um investimento crescente num problema cuja solução virá de um mix de tecnologia e políticas públicas.
O Princeville Climate Technology Fund investirá em tecnologias comprovadas que ajudam a atenuar a mudança climática, incluindo eficiência energética, mobilidade, ‘smart grid’, otimização do uso da água e cidades inteligentes. O foco será em empresas ‘late stage’.
Para ajudar na captação, a Princeville conquistou o endosso (e os dólares) de Leonardo DiCaprio, um dos maiores poster boys contra a mudança climática.
Há três anos, quando ganhou o Oscar de Melhor Ator, DiCaprio usou seu discurso de aceitação para dizer que “a mudança climática é real e está acontecendo agora. É a ameaça mais urgente a toda a nossa espécie, e precisamos trabalhar juntos e parar de procrastinar.” (Foi o momento mais discutido na história do Oscar, com 440 mil tweets por minuto, e as buscas sobre o assunto no Google se mantiveram elevadas nos quatro dias seguintes.)
Agora, DiCaprio se tornou consultor da Princeville e investidor do novo fundo. O outro advisor é Thor Bjorgolfsson, uma espécie de Richard Branson da Islândia. Thor ganhou seus primeiros US$ 100 milhões quando vendeu sua cervejaria Bravo para a Heineken. Depois, multiplicou seu patrimônio 40 vezes investindo em empresas de telecom, uma farmacêutica e bancos.
A conexão brasileira da Princeville é a A10, a boutique de M&A da veterana banqueira Ana Cabral e seus sócios Marcelo Paiva e Marcus Silberman, que acaba de se juntar à firma depois de 20 anos entre o Credit Suisse e a Merrill. Outra sócia da A10 em Nova York, Maria Herrera, é uma ‘special advisor’ do fundo da Princeville.
A A10 ficou próxima do tema de mudança climática há sete anos, quando comprou o controle de uma mina de lítio no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
O lítio é a principal matéria-prima na fabricação de baterias de armazenamento de energia e de carros elétricos. A corrida para aumentar a autonomia destes veículos passa por catodos de níquel que por sua vez utilizam o hidróxido de lítio, produzido a partir de grandes quantidades de um concentrado altamente especifico (6% de lítio, o chamado “grau de bateria”).
No ano passado, a A10 listou a Sigma Lithium Resources — a companhia dona da mina e que produz o concentrado — na Bolsa de Toronto. A Sigma acaba de assinar uma aliança estratégica com a Mitsui, que comprará parte do minério de lítio e financiará parte do capex de uma planta maior para que a Sigma possa atender a demanda.
“A mudança climática é um tsunami global,” diz Cabral, cuja experiência em mineração inclui ter assessorado a Vale em diversas transações. “A Ásia está eletrificando a frota de carros para deixar suas cidades respiráveis. Além disso, há uma corrida para desenvolver tecnologias para o armazenamento de geração de energia e softwares de otimização da rede elétrica para viabilizar energias renováveis como eólica e solar em mercados como a Ásia que ainda dependem de termoelétricas.”
A Princeville foi fundada por Emmanuel DeSousa, o principal banker de tecnologia do Credit Suisse na América Latina durante o boom da internet nos anos 90. A Princeville tem US$ 600 milhões sob gestão e escritórios em São Francisco, Hong Kong e Amsterdam.
Este é o terceiro fundo levantado pela Princeville. O primeiro foi em parceria com o Softbank, com quem a Princeville tem uma relação próxima; o Softbank costuma co-investir com a gestora. O segundo fundo levantou meio bilhão de dólares e investiu em empresas como a Doctor on Demand, Dreamlines, Tripping e a Auto1 Group, um unicórnio alemão.