Leonardo Bursztyn passou os últimos 20 anos estudando o impacto que o ambiente social tem nas decisões das pessoas — mais recentemente, focando nas redes sociais e nos estudantes. 

Agora, o professor de economia da University of Chicago decidiu usar esse conhecimento para tentar resolver o que é talvez um dos principais problemas dos últimos anos: o tempo que os jovens gastam nas redes sociais e o impacto disso na saúde mental e no desempenho escolar.

Leonardo — que é brasileiro e mora há 15 anos nos Estados Unidos — fundou a NOMO, um aplicativo que usa recursos de gamificação e psicologia comportamental para reduzir o tempo que os jovens passam rolando o feed do TikTok e Instagram.

10 13 Leonardo Bursztyn okPara colocar o app de pé, a NOMO fechou uma rodada de quase US$ 4 milhões com investidores-anjo e dois fundos: a Harper Court Ventures, um fundo recém-criado pela University of Chicago para investir em projetos de seus professores, e a brasileira Positive Ventures, focada em investimentos de impacto.

A rodada deve dar fôlego para a startup operar por um ano, e a NOMO já está em conversas com fundos do Vale do Silício para uma rodada maior no ano que vem.  

“O tempo que as novas gerações estão passando nas redes sociais é muito grande, de 4 a 5 horas por dia. A única atividade em que eles gastam mais tempo é dormindo e, em alguns casos, a rede social consome mais tempo que o sono,” Leonardo disse ao Brazil Journal.

“É uma alocação de tempo, então se eles gastam muito tempo com isso, não sobra para as outras coisas. E isso está afetando a saúde mental desses jovens. Diversos estudos mostram que o maior tempo nas redes sociais aumenta a depressão, ansiedade, e piora a qualidade do sono e a performance escolar.”

No app da Nomo, os usuários ganham ‘Momentos’ por cada dia que conseguem cumprir um ‘streak’, que pode ser ficar menos de 3 horas nas redes sociais ou menos de 1 hora. 

Quando ele acumula uma certa quantidade de ‘Momentos’, ele pode trocar esses pontos por prêmios, que vão desde um jogo de tabuleiro, uma camiseta ou um tênis da Vans até ingressos para jogos de basquete e beisebol ou entradas para o cinema.

O app também permite fazer desafios entre amigos, criando rankings de quem está acumulando mais pontos. Outra funcionalidade: ao ativar um botão e bater o celular com o de outro usuário, o app bloqueia as redes dos dois por 1 ou 2 horas. A funcionalidade foi criada para garantir que as pessoas consigam se conectar mais em encontros presenciais.

Leonardo passou mais de um ano desenvolvendo o aplicativo, que foi lançado oficialmente há um mês nos Estados Unidos, Reino Unido e no Brasil. 

O interesse tem sido significativo, segundo o fundador. O app da NOMO já teve dezenas de milhares de downloads e a startup planeja ultrapassar 1 milhão de usuários cadastrados no início do ano que vem. A escala deve vir de contratos que a NOMO está fechando com estados, municípios e escolas para implementar a solução de forma customizada.

No Reino Unido, a NOMO fechou uma parceria com 60 escolas que vai entrar em vigor em novembro. No Brasil, está na reta final da negociação com dois grandes estados e um município, que querem disponibilizar uma versão personalizada do app para todos os alunos das redes públicas (o que daria mais de 1 milhão de jovens, caso os três contratos sejam assinados). 

Já nos Estados Unidos, a NOMO está atuando em parceria com quatro escolas e universidades como a UCLA e Chicago. 

Leonardo explica que os contratos com as escolas e governos envolvem a customização do app, com desafios e rankings criados especificamente para a realidade da instituição. Uma escola, por exemplo, poderia fazer uma competição entre as classes: aquela cujos estudantes ficarem menos tempo nas redes sociais pode ganhar benefícios como usar a quadra no recreio ou sair antes para o intervalo. 

A NOMO está começando esses contratos com um ‘free trial’, mas o plano é cobrar US$ 1 por criança por mês. 

Outra fonte de receita são os pais dos alunos. A startup criou um modelo em que os pais pagam uma assinatura de US$ 100 a US$ 200 por mês, vinculando-a à mesada dos filhos: a grana é devolvida caso a criança cumpra as metas estabelecidas. 

“É uma forma dos pais pagarem as mesadas dos filhos pelo nosso aplicativo, mas condicionando isso ao atingimento das metas. Em alguns países, já conseguimos devolver o dinheiro de volta direto para os filhos, quando eles cumprem as metas. Em outros, devolvemos para os pais, que repassam aos filhos.”

A NOMO também pretende faturar com anúncios. Leonardo diz que as marcas têm gastado centenas de milhões de dólares hoje com anúncios nas redes sociais, “mas isso é um mercado horrível para elas, porque elas compram os anúncios, mas não têm acesso ao tempo.” 

“A Universal Studios, por exemplo, paga centenas de milhões em anúncios nas redes sociais, mas os jovens não estão indo ver os filmes dela no cinema porque estão ficando no TikTok ou Instagram,” disse ele. “Eles estão dando dinheiro para as próprias plataformas que estão roubando o seu tempo.”

Fábio Kestenbaum, da Positive Ventures, disse que a NOMO chamou sua atenção porque ataca com cabeça de venture capital um problema que vinha sendo atacado apenas por meio de políticas públicas e filantropia. 

“A dimensão e complexidade do desafio é enorme. Mas acho que o ‘hack’ do Leonardo é todo o conhecimento que ele tem dos comportamentos humanos e dos incentivos que funcionam, e como ele está usando isso para gerar resultados.”