A Aeris acaba de anunciar um follow-on de R$ 400 milhões que será usado para amortizar toda a dívida da fabricante de pás eólicas que vence no primeiro semestre de 2024.
A oferta — 100% primária — já nasce garantida pelo BTG Pactual numa operação de tesouraria desenhada a quatro mãos com a família Negrão, que controla o negócio com 60% do capital.
A família transferiu seu direito de preferência na oferta – R$ 245 milhões – para o BTG, que também se comprometeu a ficar com a totalidade da oferta caso os demais acionistas não exerçam seu direito e o banco não consiga vender as sobras para outros investidores.
O BTG também é o coordenador da operação.
Como parte do acordo, no entanto, a família terá que comprar essas ações de volta no prazo de dois anos. Isso foi estruturado por meio de uma call, que pode ser exercida pela família nesse prazo a R$ 2 por ação. Ao mesmo tempo, o BTG ganhou uma put contra a família, também de dois anos e que pode ser exercida a R$ 1,20/ação.
Com isso, o banco garante um retorno mínimo de cerca de 30% (já que a ação hoje está a R$ 0,90) e um retorno máximo de cerca de 120%.
Com a oferta, a participação da família Negrão vai cair para 37% do capital. Já o BTG ficará com uma fatia de 38% do negócio caso compre toda a oferta. O banco, no entanto, disse que não pretende interferir na governança e que vai ceder seu direito de voto aos Negrão.
Bruno Lolli, o diretor de planejamento e relações com investidores da Aeris, disse ao Brazil Journal que a operação vai reduzir a dívida líquida da companhia em 39% e deixar a empresa preparada para a retomada do mercado de pás eólicas, que ele acredita deva ocorrer em 2025.
Hoje, a dívida bruta da Aeris é de R$ 1,76 bilhão, e a empresa tem um caixa de R$ 740 milhões. Com a oferta sendo usada em amortizações, a dívida bruta vai cair para R$ 1,36 bi, e a empresa vai manter a mesma posição de caixa.
A alavancagem deve cair de 3x o EBITDA dos últimos 12 meses para cerca de 2x.
“Ano que vem devemos ter uma queda nos volumes de vendas, mas depois desse ‘vale’ esperamos um crescimento importante. E queremos estar com uma empresa mais leve e menos alavancada quando isso acontecer,” disse o executivo.
Essa queda no volume tem a ver com o cenário do mercado de energia. Com os preços baixos dos contratos de energia para o médio prazo, há pouco incentivo para as empresas construírem novos parques eólicos, o que afeta diretamente a demanda da Aeris.
O backlog da empresa — os contratos de longo prazo já firmados com seus quatro clientes (Nordex, Vestas, Weg e Siemens Gamesa) — teve uma queda relevante nos últimos trimestres, de 13,4 GW no primeiro tri para 5 GW no final do terceiro tri.
Bruno disse, no entanto, que a Aeris está negociando com dois clientes a renovação de contratos que devem aumentar “significativamente” esse backlog.
A oferta vem num momento em que a ação da Aeris negocia no low histórico. O papel caiu mais de 80% desde o IPO em 2020 e mais de 93% desde o high de janeiro de 2021, quando chegou a negociar a R$ 13.
Segundo Bruno, essa queda reflete um ambiente de mercado que frustrou as expectativas que a companhia tinha no IPO. Ele cita os impactos da pandemia, que aumentou muito os custos logísticos e de metais, destruindo muito do resultado dos clientes da Aeris — já que eles vendem as turbinas para entregar dois anos depois.
Além disso, ele disse que houve muitos problemas no design dos produtos da nova família de aerogeradores (com uma potência maior) que surgiu nos últimos anos, o que prejudicou a performance da produção e os resultados da Aeris.
Por fim, a alta dos juros elevou muito as despesas financeiras, passando a consumir todo o resultado da companhia, que vem dando prejuízo há vários trimestres consecutivos. (A oferta deve ajudar a resolver esse último problema).
A Aeris também divulgou hoje seus resultados do terceiro trimestre. Do lado negativo, a companhia teve um prejuízo líquido de R$ 28,7 milhões e uma queda de quase 200 bps em sua margem EBITDA, que ficou em 8,7%.
Do lado positivo, conseguiu expandir sua receita líquida em 3,7%, na comparação sequencial, para R$ 885 milhões.
A queda na margem foi puxada pelo desempenho dos serviços, que foi pior que o esperado por conta de um projeto relevante nos Estados Unidos cuja execução foi postergada. “Também tivemos um custo de materiais e mão de obra maior, que afetou as margens da venda das pás,” disse Bruno.