Desde que o PT voltou ao poder em janeiro do ano passado e voltou a interferir nas empresas estatais e paraestatais, muitos investidores tem apostado que este será um ponto de inflexão para o valor de mercado da Petrobras — mas de lá para cá, um barril a US$ 80 tem garantido que a empresa aceite qualquer desaforo.
Mas com a troca no comando da Petrobras, o Governo agora está dobrando a aposta.
A nova presidente da empresa, Magda Chambriard, tem feito trocas relevantes no middle management da companhia — demitindo funcionários de carreira e técnicos e substituindo-os por quadros próximos ao PT e à Federação Única dos Petroleiros, a FUP, o sindicato que cada vez mais manda na empresa.
A informação é da coluna Malu Gaspar, no Globo. Segundo o jornal, pelo menos 12 gerentes-executivos foram substituídos nas últimas semanas.
As trocas estão concentradas na área de exploração e produção (E&P) – eternizada entre os políticos gulosos em Brasília como “aquela diretoria que fura poço” – e na de engenharia, responsável pelas contratações bilionárias de equipamentos e serviços.
As trocas na área de E&P – considerada a ‘alma da companhia’ – têm preocupado outros executivos dentro da Petrobras, que dizem que “nem no primeiro mandato de Lula se trocou tanta gente nessa área.”
Os gerentes-executivos da Petrobras ocupam posição relevante na hierarquia da empresa, pois ficam logo abaixo dos diretores.
Segundo O Globo, esses executivos ganham salários ao redor de R$ 80 mil/mês e “administram orçamentos mais relevantes do que o de muitos vice-presidentes de companhias privadas.”
Além disso, três das gerências que sofreram substituição passaram recentemente a ter assento no comitê de decisões de investimento da Petrobras, junto com os diretores da companhia.
Uma das indicações foi a do ex-secretário de energia do Rio de Janeiro, Wagner Victer, que vai assumir o cargo de gerente-executivo do campo de Búzios. Outro indicado é o professor do Instituto de Economia da UFRJ, Eduardo Costa Pinto, que, segundo o Globo, tem vínculos com a FUP.
Os dois vão substituir funcionários de carreira que eram vistos internamente como extremamente técnicos e qualificados, segundo o jornal.
O Globo lembra que, ainda que Victer já tenha trabalhado na Petrobras, ele passou mais de 20 anos fora da companhia — o último cargo como diretor-geral da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Victer voltou à Petrobras em maio do ano passado, como assessor da presidência.
À frente do campo de Búzios, ele vai administrar o maior campo de petróleo em águas profundas do mundo, com produção de 560 mil barris de petróleo por dia, o equivalente a 17% da produção nacional.
Eduardo Pinto também chegou há pouco tempo na Petrobras. Ele foi contratado no ano passado para ser assessor especial de Jean-Paul Prates e não tem nenhuma experiência executiva na área de petróleo.
Seu cargo será de gerente-executivo de gestão de parcerias e processos de exploração e produção — uma função que administra todas as parcerias da Petrobras com outras empresas e avalia o desempenho de campos.
Outra troca relevante foi a da gerência-executiva de sistemas de superfície, refino, gás e energia — responsável por fazer as licitações para a contratação de projetos para as plataformas, obras de refinarias e terminais de gás.
Na área de exploração, outras mudanças incluem as saídas dos gerentes-executivos João Jeunon (Libra), Francisco Queiroz (Terra e Águas Rasas) e Ricardo Morais (Águas Ultraprofundas).
Se existe uma área de excelência na Petrobras, é a área de E&P – reconhecida mundialmente. Há décadas a companhia ganha prêmios internacionais pela qualidade técnica de seus engenheiros e suas conquistas na exploração offshore.
Agora, mais uma vez, em vez de reconhecer seu mérito e promover estes executivos, o Governo troca o critério da excelência pela indicação política – e vai acabar empurrando os melhores técnicos para empresas privadas.