BRASÍLIA — A ideia de nomear Eduardo Bolsonaro embaixador nos Estados Unidos foi do Presidente Donald Trump, e a sugestão, feita de forma impulsiva no encontro reservado ocorrido em março, na Casa Branca, durante visita oficial de Bolsonaro.

A versão foi confirmada ao Brazil Journal por duas fontes seniores com conhecimento do tema, uma dentro do Planalto e outra do Congresso, que ouviram os relatos de Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo.

Apenas os três estavam na sala — Trump, Jair e Eduardo — além de dois tradutores.

Segundo o relato, no encontro na Casa Branca, em 19 de março, Bolsonaro mencionou a Trump que precisaria nomear outro embaixador para Washington, porque o então embaixador, Sérgio Amaral, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso e diplomata aposentado, havia lhe dito no dia anterior que pretendia voltar ao Brasil.

Trump disse a Bolsonaro que o brasileiro deveria aproveitar a oportunidade de escolher alguém alinhado com suas ideias e com a visão de mundo que ambos compartilham. Foi quando apontou para Eduardo e disse: “Por que não escolhe ele?” para surpresa de ambos os Bolsonaros. 

Instantes depois, nos jardins da Casa Branca, quando os dois presidentes davam uma coletiva, Trump destacou a presença de Eduardo ao responder uma pergunta sobre Venezuela:

“Aliás, vejo entre o público o filho do presidente [Bolsonaro]. Pode se levantar, por favor? Você fez um trabalho fantástico”, disse Trump.

Para o presidente dos EUA, as relações familiares e o poder também andam juntos. Sua filha Ivanka é a mulher mais poderosa do governo, conselheira na Casa Branca e acompanha o pai em reuniões internacionais como o G-20, algumas vezes o substituindo na mesa de negociações. Ivana Trump, ex-mulher do presidente e mãe de Ivanka, disse em entrevista em 2017 que o ex-marido a convidou para ser embaixadora dos EUA na República Tcheca, seu país de origem, mas ela recusou. 

Para a indicação de Eduardo ao posto em Washington faltava apenas cumprir a idade mínima exigida pela Constituição brasileira, 35 anos. Não por acaso, Bolsonaro tornou pública a decisão de indicar o filho embaixador um dia depois do aniversário de 35 anos do filho.

Apesar da força do Planalto para a escolha, os votos no Senado, que precisa aprovar a indicação, não estão garantidos. 

“Está meio a meio, sem margem de erro”, o presidente da Comissão de Relações Exteriores, Nelsinho Trad, disse ao Brazil Journal.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, tem trabalhado para dar mais tempo à negociação do governo e para Eduardo se preparar para enfrentar a sabatina pública obrigatória. Ontem, ele leu o nome de três outros embaixadores indicados pelo governo, fazendo com que a Comissão de Relações Exteriores da Casa precise sabatiná-los primeiro.

O nome de Eduardo deve chegar oficialmente ao Senado ainda nesta semana, calcula a presidência da Casa. A primeira etapa é a avaliação dos 19 integrantes da comissão, processo que leva pelo menos duas semanas. Hoje, sete senadores se dizem contrários à indicação e três a favor. A decisão ficará com os nove indecisos.

Depois, rejeitado na comissão ou não, o nome passa pelo plenário da Casa. Se for aprovado por maioria simples dos 81 senadores, o nome é confirmado.

Apenas uma única vez um indicado pelo presidente da República para ocupar o posto de embaixador teve o nome rejeitado, de acordo com os registros da Comissão. Nos estertores do governo Dilma, em 2015, o Senado rejeitou o nome de Guilherme Patriota, irmão do então Chanceler Antonio Patriota, para embaixador da OEA. Era um nome qualificado, diplomata de carreira, em um governo fraco. 

Agora a situação parece inversa: a Eduardo falta qualificação, mas o governo tem gordura para queimar.