A mais nova troca no comando da Petrobras é a última peça que faltava para o plano do Governo de evitar que o preço dos combustíveis derrote o Presidente Bolsonaro nas urnas.
Depois de colocar um fiel escudeiro no comando das Minas e Energia, o Ministro Paulo Guedes instalou outro soldado leal no topo da Petrobras.
Mas por que PG está conquistando territórios a essa altura do jogo, com o Governo entrando em seu epílogo?
Desde que a guerra na Ucrânia fez o preço do petróleo disparar, o Presidente procura um jeito de isolar seu Governo (e suas chances de reeleição) da impopularidade.
Em Brasília, não é segredo que o ministro disse ao Presidente que “mataria no peito” o problema – desde que tivesse as ferramentas adequadas. A primeira delas foi instalar Adolfo Sachsida no lugar de Bento Albuquerque. A segunda foi instalar Caio Paes de Andrade – que também nutre devoção pelo ministro – na cadeira mais quente da República.
Ressalvando-se que até agora a “intervenção” de Bolsonaro na Petrobras tem sido mais verbal do que real, PG tem defendido que a empresa crie uma maior distância entre os aumentos de preço para não importar a volatilidade do mercado. Esse espaçamento, no entanto, terá uma conveniência extra quando junho chegar.
Um espaçamento de quatro meses, por exemplo, equivaleria a congelar o preço dos combustíveis até a eleição presidencial de 2 de outubro.
Ao usar essa estratégia, Bolsonaro faz o seguinte cálculo: uma vez reeleito, ele mesmo cata os caquinhos e recompõe o caixa da Petrobras; e se ele perder, o problema é do Lula.
PG também corre riscos: se o petróleo e o câmbio se comportarem até a eleição, ninguém vai reclamar de nada. Mas se o barril e o dólar subirem, os acionistas minoritários vão questionar o conselho, que assim como a diretoria temerá pelos seus CPFs.
E como o mercado não se resume à Petrobras, convem pensar nos efeitos de segunda ordem: as distribuidoras de combustível e os importadores privados, por exemplo, deixarão de importar – ninguém compra por R$ 10 para revender por R$ 8 – jogando o ônus do abastecimento sobre a Petrobras. (Privatizar novas refinarias? Esquece!)
Estratégia semelhante usada pelo governo Dilma abriu um rombo de US$ 40 bilhões no caixa da empresa e a deixou com uma dívida de US$ 100 bilhões – a maior dívida corporativa do planeta.
Fato é que o novo dono do problema “combustíveis” é Paulo Roberto Nunes Guedes – o ministro que todos descreveram como “fraco”, que a fábrica de boatos de Brasília já deu como “pato manco” incontáveis vezes, e que agora chega à reta final como o arquiteto da maior arma eleitoral de que dispõe o Presidente: manter Dona Maria com gás na cozinha e os caminhoneiros, circulando.
O episódio também mostra que as companhias de economia mista não conseguem escapar de sua sina e que, na Petrobras, por mais que a coisa mude, fica tudo igual.
Pode-se argumentar que, desde que foi fundada, a principal atividade da Petrobras nunca foi achar petróleo ou vender gasolina – e sim segurar preços para ajudar eleições.
Bolsonaro não inventou essa ciranda. É apenas a vez dele.