Antes de tomar qualquer decisão importante, Steve Jobs, Jeff Bezos, Eric Schmidt e Larry Page ligavam para Bill Campbell.

O mais celebrado coach de executivos do Vale do Silício morreu em 2016, aos 75 anos, sem nunca escrever um livro sobre seus ensinamentos: discreto, guardou sua sabedoria para os altos executivos com os quais trabalhou e frequentemente desenvolveu amizades profundas. 

Agora, Eric Schmidt, Jonathan Rosenberg e Alan Eagle – três de seus ‘coachees’ no Google – estão compartilhando o que aprenderam com o mentor num livro homenagem: “Trillion Dollar Coach: The Leadership Playbook of Silicon Valley’s Bill Campbell” (HarperBusiness, 240 páginas, 2019). 

O título é uma referência ao valuation das empresas que ele ajudou a turbinar com seus conselhos e ensinamentos. 

Além de contar suas próprias experiências, os autores trazem relatos de cerca de 80 pessoas que tiveram Bill como mentor e contam bastidores de momentos decisivos na história das grandes empresas de tecnologia. Como aquela vez em que Schmidt, então CEO do Google, ameaçou renunciar. 

Nas vésperas do IPO, em 2004, o board queria tirá-lo da presidência do conselho, cargo que acumulava. Com o orgulho ferido, Eric ligou para Bill. Além de demovê-lo da ideia de deixar a empresa, Bill se comprometeu a batalhar para que ele voltasse a ser chairman mais pra frente – o que de fato aconteceu.

Em outro episódio, o board da Amazon recrutou o coach para avaliar se deveria manter Bezos no comando – na época, ele era visto como ‘inexperiente’. 

Bill foi até Seattle e, depois de uma reunião com Bezos, deu o veredito: Bezos era brilhante, e a empresa não duraria um ano sem ele.

Bill também foi um dos amigos mais próximos de Steve Jobs, com quem fazia caminhadas regulares nos finais de semana. 

Economista de formação, entrou na Apple como vp de marketing em 1983, e foi responsável pela premiada campanha do ‘Big Brother’, contrariando o próprio conselho. 

Quando John Sculley resolveu afastar Jobs, Bill resistiu. Foi o início de uma grande amizade.

Quando Jobs retornou em 1997 para evitar a falência, quis se cercar de pessoas de confiança: Bill foi o primeiro a ser recrutado, e permaneceu no board da Apple por 17 anos, até 2014. 

Durante a disputa da Apple com o Google em torno do Android, Bill estava lá para fazer o meio de campo: organizou uma aproximação de Jobs com Alan Eustache, um senior vp do Google. 

Quando o câncer de Jobs estava em estágio avançado, Bill o visitava diariamente – em casa, no escritório ou no hospital. “Quando você tem um amigo que está doente ou que precisa de você de alguma forma, você para tudo e vai,” dizia.

Bill Campbell começou a carreira como técnico do time de futebol americano da Universidade Columbia nos anos 70. Antes da Apple, foi executivo da Kodak. E nos anos 90 foi CEO da Intuit, a empresa de software de contabilidade. 10729 2e147aa2 d75d 783b e13d 307d463299e4

Tinha um genuíno interesse pelas pessoas: antes de entrar em assuntos de trabalho, queria saber do fim de semana, da família. Também era dado a xingamentos carinhosos e abraços calorosos – que distribuía a todos, sem exceção. Dizem que ele teria abraçado até mesmo Bill Gates – conhecido por ser ‘inabraçável’. 

Vibrava nas reuniões, dando pulos e socos no ar quando um amigo tinha sucesso em algo. Schmidt conta que diversas vezes recebeu beijinhos pelo ar durante reuniões de conselho ou de equipes. Era o jeito Bill Campbell de demonstrar que se importava.

Mantinha essa atitude na alegria e na tristeza.

Quando o investidor Ben Horowitz precisou demitir um terço dos dos funcionários da Loudcloud, ouviu do coach que teria de dar a notícia pessoalmente. 

“Esteja presente durante o dia todo. Ajude as pessoas a levar seus pertences para o carro. Ninguém na empresa vai se importar com nada além do que vai acontecer com eles próprios.”

Seguindo o conselho, Ben cancelou uma viagem em que tentaria levantar dinheiro para evitar a falência da empresa. “Estar presente me permitiu seguir e lidar com o dia seguinte. E nos deu uma base para tudo o que fizemos depois,” conta Ben no livro.

“Aprendemos com Bill que é okay amar. Que as pessoas no seu time são pessoas e que o time fica mais forte quando você rompe as barreiras entre as personas profissionais e humanas e abraça a pessoa por inteiro, com amor. Literalmente, no caso do Bill,” escrevem os autores – admitindo que o conselho de sair abraçando (e praguejando) não é para qualquer um. “Pessoalmente, ainda preferimos apertos de mão e conversas mais tradicionais sobre amenidades.”

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