Na sexta-feira passada, no final da tarde, a Trendbank, uma das maiores e mais tradicionais factorings do País, comunicou aos clientes que não permitiria mais resgates em um de seus fundos, de R$400 milhões, um tipo de fundo conhecido como FIDC, que desconta duplicatas para grandes empresas.

Especialistas do mercado de crédito dizem que a quebra do fundo é a ponta do iceberg de um escândalo que vai expor as relações aparentemente nada ortodoxas entre os FIDCs de factorings e notórias fundações de grande porte.

Honrando uma tradição brasileira em casos deste tipo, os aposentados e participantes de fundos de pensão entraram pelo cano mais uma vez. O Estado de Sao Paulo mostrou no domingo que os fundos de pensão da Petrobras (Petros) e dos Correios (Postalis) tinham, respectivamente, R$23 milhões e R$50 milhões aplicados no fundo que implodiu. O fundo de pensão dos funcionários do Tocantins, mais R$15 milhões. Pelo menos mais dez fundações municipais — incluindo Cubatão, Jundiaí, Piracicaba e São Bernardo do Campo — devem ter perda total.

“A quebra vai fazer um enorme estrago em outras factorings que também operam na ‘zona cinzenta’ e vai machucar muitas casas boas que criaram fundos de FIDCs de factorings para vender para os seus clientes,” diz um executivo que conhece vários dos gestores.

Outro aspecto intrigante da quebra do fundo da Trendbank, também apontado pelo Estadão, é o número de notas fiscais emitidas contra grandes empreiteiras que estavam na carteira do fundo e eram frias. Notas emitidas contra a Andrade Gutierrez, Galvão Engenharia e a Serveng, por exemplo.

O problema com icebergs é que, da superficie, nunca dá pra se ver o tamanho da encrenca.