A semana está agitada em São Paulo com a Fórmula 1 e, é claro, eu não poderia deixar de contar os causos (e até uma tretinha básica) sobre esse evento que mesmo sem piloto brasileiro ainda é paixão nacional. Tem até o engenheiro-chefão da pista de Interlagos dando palpite sobre onde as empresas deveriam estampar suas marcas.
Mas se o agito agora está em São Paulo, na semana passada Xangai é que era o palco do burburinho. Uns 50 executivos brasileiros foram fazer um tour no futuro – e eu conto aqui o que nos espera. Inclusive as novidades do TikTok.
Tem ainda os 30 anos sem Ayrton Senna. Vou inclusive fazer uma revelação sobre o produto do piloto que é o mais vendido no mundo. Vai te surpreender. Mas como um bom chá revelação, deixei pro final. Vem ler.
É do Brasil
Se alguém ainda tinha dúvidas de que a Fórmula 1 agora é entretenimento, o Grande Prêmio de São Paulo está aí para provar. A grande novidade neste ano é a Fanzone, uma área que é tipo um parque de diversões para o público, com pontos de alimentação, lojas, shows todos os dias e até uma apresentação especial do Alok no sábado. Quase um The Town.
Simuladores de vento e de troca de pneus estarão disponíveis para o público. A zona também vai ter participação dos pilotos.
O CEO do GP, Alan Adler, me contou que no ano que vem vai ampliar as arquibancadas, tamanha a demanda pelo evento. Os ingressos esgotam em poucos minutos a cada lote botado à venda. “O público também rejuvenesceu – e isso que não temos nenhum piloto brasileiro,” disse o Alan.
Na pista
Essa notinha aqui vai interessar para quem é fã de carteirinha. Eu fiz um tour pela pista de Interlagos (eu e uma galera, porque era um evento de imersão da escola HSM) com o engenheiro que é chefão do circuito, Luis Ernesto Morales, e ele contou muita coisa interessante.
- Neste ano, foi feito um recapeamento completo na pista. Eles fazem isso de dez em dez anos. Tudo foi feito em 30 dias, e ele enviou um ensaio para a FIA contando o que mudou na pista para os pilotos.
- 8 jumbos com 800 toneladas de equipamentos chegaram na segunda à noite. Por navio, foram mais 700 toneladas de pneus e combustível para a realização do GP.
- Interlagos é a única pista do mundo que tem um paddock coberto.
- O desnível de Interlagos é de 40 metros, algo como um prédio de 15 andares.
- Para entrar na curva do Senna, saindo da reta dos boxes, o piloto reduz a velocidade de 330 para 90 quilômetros por hora. E ele precisa fazer isso 70 vezes durante o GP.
- Em 25 anos atuando em Interlagos, Luizão (como é conhecido) diz que o pior momento para ele foi a corrida de 2003, quando 8 carros tiveram que deixar o circuito porque bateram ou quebraram (tinha muita chuva). A corrida foi interrompida na volta 56.
- Se ele fosse escolher um lugar para ver a corrida, escolheria os setores A ou T. (Fica a dica)
- Se ele fosse marqueteiro, escolheria botar sua marca nos alambrados ou guard rails no começo do S do Senna. “Todo mundo de cara vai saber que é Interlagos e que é Brasil”.
Tretas de transmissão
Os direitos de transmissão da Fórmula 1 hoje são da Band, mas rolou a maior treta com o pagamento dos direitos para 2025. A Liberty Media, que é a dona da Fórmula 1 e negocia esses direitos, foi lá e perguntou se a Globo queria. O que a Globo fez? Baixou um carro de Fórmula 1 no meio do palco do Upfront (o evento para o mercado publicitário) e escreveu: “Será????” Agora a Band anda dizendo que já pagou os direitos de 2025.
As marcas
A Lenovo comprou os naming rights do GP de São Paulo deste ano – e os direitos do GP da China.
A CMO da Lenovo no Brasil, Barbara Toscano, explica porque a marca quer estar na F1: “eles tinham uma base global de 500 milhões de fãs. Agora, eles ultrapassaram 700 milhões de fãs e continuam crescendo, especialmente entre mulheres e a Geração Z.”
Games
A Heineken não sabia bem como chegar na Geração Z no Brasil. Entendeu que devia fazer o óbvio. Entrar no mundo dos games. Mas como? Como já patrocinava o esporte, escolheu fazer games de Fórmula 1. Foi um sucesso tão grande que o modelo brasileiro foi replicado no mundo todo.
A Porto todo ano faz uma competição entre seus colaboradores para escolher aqueles que vão trabalhar na Fórmula 1. É a maior disputa. A marca já percebeu que seus corretores ficam mais empenhados nas vendas quando o prêmio por desempenho envolve os ingressos para a zona da Porto no autódromo.
Dirigir Para Viver
Mariana Becker, a famosa jornalista que há décadas cobre a Fórmula 1 e viaja o mundo para cada uma das corridas, diz não ter dúvidas de que o público jovem começou a gostar do evento por conta das redes sociais, mas também por conta da série Drive to Survive da Netflix.
Senna
Por falar em Netflix, este é o trigésimo ano do aniversário da morte do Ayrton Senna, e o streaming vai lançar um documentário sobre o piloto. Um dos patrocinadores do doc é o Guaraná. A agência de publicidade que ajuda a Ambev com a marca, a CP+B, descobriu que o Ayrton amava guaraná. O Galvão Bueno contou para eles que Ayrton sempre lhe pedia para levar guaraná quando ia encontrar o piloto em outros países. Guaraná e gravações da Escolinha do Professor Raimundo.
De volta do futuro
Um grupo seletíssimo de 50 executivos brasileiros fez uma excursão de quase 10 dias para a China. Voltaram no fim de semana. Como disse a Gabriela Onofre, da Publicis, foram ali dar “uma voltinha no futuro.”
Só para vocês terem ideia do grupinho, tinha C-Level de empresas como PepsiCo, Bauducco, McDonald’s, iFood, Visa, Cogna, Meta, Mastercard, Globo, PagBank e agências de publicidade como Publicis, Artplan, Dreamers, CP+B e ZMes.
E o que o futuro está dizendo?
Sobre essa voltinha no futuro, o Marcelo Tripoli, da agência ZMes, fez um resumo que vai interessar demais aos varejistas. Ele identificou um mito e 3 verdades.
O mito, segundo ele, é de que algum dia o Ocidente vai conseguir reproduzir um superapp nos moldes do WeChat, na China. O superapp chinês é aquele em que a pessoa faz absolutamente tudo por meio de um único aplicativo: conversa, manda email, vê filmes, lê notícias, pede comida, compra na loja, no supermercado, na farmácia, usa como meio de pagamento, como banco, etc, etc, etc… Tem até Tinder no WeChat.
Tripoli diz que não há como isso ser reproduzido no Brasil porque já temos o hábito de ter muitos aplicativos.
E as 3 verdades?
- Se não é possível fazer um superapp nos moldes chineses, o modelo de ecossistema é um que vai se mostrar cada vez mais viável (Como diversas empresas já fazem). Ok, nada de novo aqui.
- O funil vai acabar. Opa! Como viver sem o topo e o fundo do funil? Na China, as pessoas já conseguem comprar qualquer coisa que veem em uma postagem da rede social com apenas um toque e arrastando para o lado. Zero fricção. O produto já entra no carrinho, já é pago e enviado para o endereço do cliente com só um movimento.
- Os influenciadores serão as máquinas de venda do futuro. Na China, eles são chamados de KOL (Key Opinion Leaders). Um dos influenciadores de maior sucesso é Austin Li. Ele fatura US$ 200 milhões por mês (isso, você leu certo, por mês) com as vendas que promove nas suas lives e postagens.
Quando o futuro chega aqui?
Não se preocupe que a ByteDance já está providenciando. A chefona do TikTok na América Latina, Gabriela Comazzetto, disse para o pessoal da viagem que o TikTok Shops (em que será possível comprar com um toque, sem sair de dentro da rede social) estará disponível no Brasil a partir do ano que vem.
Curiosidade
Na China, não existe a marca TikTok. Lá o nome do aplicativo é douyin. Quem viu de perto diz que navegar no douyin é como vislumbrar o que vai ser o TikTok no Ocidente daqui a cinco anos.
Chá revelação
O Instituto Ayrton Senna tem 65 parcerias com diferentes empresas que usam a marca. Mas o produto ligado ao Ayrton que mais vende até hoje no mundo inteiro é o boné do Banco Nacional. Sim, aquele que quebrou em 1995. E, sim, aquele boné em que aparece Nacional escrito na parte da frente.
O que é o poder de um ídolo usando uma marca.