Os Titãs, um dos grupos mais versáteis do rock nacional, voltarão aos palcos em abril numa turnê de 12 shows por dez capitais brasileiras (com concertos extras em São Paulo e no Rio).

Batizada de Titãs Encontro: Todos ao Mesmo Tempo Agora, a maratona traz de volta a formação clássica do grupo – com exceção do guitarrista Marcelo Fromer, morto em 2001 –, acrescida de Liminha, o produtor de discos clássicos do grupo como Cabeça DinossauroJesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas e o estouradíssimo Acústico MTV.

“É um jeito de matar as saudades, da gente se divertir. Acho que mais do que 40 anos de banda, tem mais anos ainda de amizade, que é o que vem à tona quando a gente se encontra,” Arnaldo Antunes disse recentemente numa entrevista. Outra boa novidade é a participação de Alice Fromer, filha de Marcelo, na guitarra.

As negociações duraram mais de um ano, disse Guss Luveira, o chief marketing officer da 30E, que está organizando o reencontro junto com a Bônus Track Entretenimento.  A empresa foi procurada inicialmente pelos Titãs remanescentes (o tecladista e vocalista Sérgio Britto; o baixista e vocalista Branco Mello, e o guitarrista Tony Bellotto), que propuseram o retorno.

O primeiro desafio foi acionar os Titãs dissidentes (os vocalistas Arnaldo Antunes e Paulo Miklos; o baixista e vocalista Nando Reis e o baterista Charles Gavin), que viram a reunião com bons olhos. “O problema maior foi conciliar as agendas”, disse o executivo.

Com o OK geral, a prioridade passou a ser o cumprimento das datas remanescentes – muitos deles ainda têm shows marcados no início deste ano – para que depois possam se dedicar aos ensaios.

A volta dos Titãs chega a tempo de comemorar as quatro décadas da banda, que surgiu em 1982 em meio ao cenário do rock alternativo de São Paulo. Ela também vem ao encontro de uma tendência nostálgica que tem tomado conta do showbiz: é cada vez mais comum se deparar com produções musicais que emulam a sonoridade dos anos 80 – os discos mais recentes dos popstars Harry Styles e Beyoncé, por exemplo – e nas trilhas sonoras de seriados de sucesso.

O caso mais recente foi a ressurreição artística de Kate Bush por conta de uma canção sua incluída em Stranger Things. Com as turnês não foi diferente: vários grupos daquele período – do new romantic Duran Duran ao rock espalhafatoso do Mötley Crüe – estão sendo redescobertos pelas novas gerações.

Aliás, a própria 30E acaba de anunciar a volta aos palcos de outra atração de décadas atrás, o NXZero, ícone do chamado rock emo. Esta “saudade do que a gente não viveu” ganhou uma definição espirituosa do crítico inglês Simon Reynolds: seria a retromania, uma obsessão do ser humano pelo passado.

“A nostalgia faz parte do nosso comportamento. Caso contrário, não teríamos (tênis) Air Jordan”, explica Luveira. “Mas nossa proposta é ir além dela. Estamos falando de sete caras que estão passando por um momento muito bom.”

De fato, o retorno aos palcos de uma banda como os Titãs, na sua formação mais bem-sucedida, vai além da memória afetiva que guiou excursões anteriores de ícones de décadas passadas.

Poucas bandas são tão versáteis e liricamente acuradas como o grupo paulistano: foram do iê-iê-iê e da música popularesca ao reggae e ao heavy metal.

Acústico MTV, por seu turno, tornou a banda extremamente popular mostrando os sucessos de outrora, mas despidos da fúria e do peso de suas versões originais.

A parte lírica do grupo também o elevou em meio aos seus pares. Canções como MisériaPolícia e Comida, entre outras, vão muito além do protesto puro e simples.

“Embora de décadas atrás, elas retratam muitas questões pelas quais estamos vivendo nos dias de hoje”, explica Luveira. “A música que nós fizemos juntos não é apenas atemporal. Ela se comunica perfeitamente com o mundo de hoje e comigo, ela é uma música de altíssimo nível, como é a produção de todos os que estão aqui ao meu lado desde sempre,” Nando Reis disse numa coletiva em novembro.

Outro fator a ser levado em consideração é que pouquíssimas pessoas tiveram a oportunidade de assistir aos Titãs no auge de sua carreira e na sua formação mais bem-sucedida. Arnaldo saiu da banda há mais de três décadas; Nando, 22 anos atrás. Gavin e Miklos deixaram o grupo respectivamente em 2010 e 2016. A oncinha pintada, a zebrinha listrada e o coelhinho peludo que se cuidem: os bichos escrotos sairão novamente dos esgotos.

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