O CEO da Apple, Tim Cook, fez o alerta mais enérgico até agora sobre a forma como as informações pessoais estão sendo usadas pelas empresas de tecnologia.

Numa conferência em Bruxelas, Cook disse que os dados pessoais estão sendo “transformados em armamentos, usados contra nós com eficiência militar.”

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“Todos os dias, bilhões de dólares mudam de mãos e inúmeras decisões são tomadas com base em nossos ‘likes’ e ‘dislikes’, nossos amigos e familiares, nossos relacionamentos e conversas. Nossos desejos e medos, nossas esperanças e sonhos.  Esses fragmentos de dados, cada um deles suficientemente inofensivo, são cuidadosamente coletados, sintetizados, comercializados e vendidos.”

E alertou sobre o impacto que as redes sociais estão tendo na convivência social.

“O seu perfil é processado por algoritmos que podem servir a conteúdos cada vez mais extremos, transformando nossas preferências inofensivas em convicções dogmáticas.”

Os comentários posicionam a Apple, uma das poucas gigantes de tech que não depende das informações de seus clientes para ganhar dinheiro, como a líder de um movimento nascente a favor da privacidade dos dados no mundo digital — numa era marcada pelos escândalos do Facebook e pela dominância do Google.

Não é a primeira vez que Cook defende a privacidade de dados, mas os comentários mostram que a Apple — antes contente em apenas mostrar que seu modelo de negócios é diferente — parece estar disposta a liderar o debate sobre uma regulação sobre o uso de dados.

Cook escolheu o seminário internacional sobre proteção de dados para fazer o discurso. Ele disse que o negócio de publicidade baseado em ‘data mining’ se tornou um “complexo industrial de dados” — uma alusão ao termo ‘complexo industrial militar’, a aliança entre os militares americanos e a indústria de defesa. (O termo ficou famoso quando usado pelo General Eisenhower quando presidiu os EUA.)

“Nós não devemos dourar a pílula sobre as consequências. Isso é fiscalização (‘surveillance’),” disse Cook. “E essas pilhas de dados pessoais servem apenas para enriquecer as empresas que os coletam. Isso deveria nos deixar muito desconfortáveis. Isso deveria nos perturbar.”

SAIBA MAIS

CNBC: A íntegra do discurso