Seis meses depois de levantar uma rodada com a Sequoia Capital, a Enter — uma startup brasileira que está usando inteligência artificial para ajudar grandes empresas em suas defesas jurídicas – fechou uma nova captação, atraindo outro gigante do VC americano.

A Enter levantou R$ 200 milhões a um valuation de R$ 2 bilhões (post-money) numa rodada liderada pelo Founders Fund, a gestora de venture capital fundada em 2005 por Peter Thiel e que foi um dos primeiros cheques do Facebook e da SpaceX. 

A rodada foi co-liderada pela Sequoia, que investiu mais do que sua participação pro rata, e também teve cheques do ONEVC e do Atlantico, que investiram na proporção de suas participações. 

A última vez que o The Founders Fund havia investido no Brasil foi em 2016, quando ele liderou a Série C do Nubank. A gestora americana nunca havia investido numa legaltech até agora, e está inaugurando a tese com a Enter. 

No Brasil, esta é a maior rodada até agora numa startup nativa de AI, ultrapassando a captação da NeoSpace em janeiro, de cerca de R$ 100 milhões. 

Fundada em 2023, a Enter está se propondo a aliviar uma das maiores dores das grandes empresas brasileiras: os custos com processos de consumidores, cujas provisões chegam a representar de 4x a 5x o lucro líquido das empresas.

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A Enter criou um agente de inteligência artificial que faz três coisas: entende porque a pessoa está processando a empresa; processa informações dos sistemas internos da empresa para compreender o que de fato aconteceu; e entrega uma defesa formal pronta para ser levada à Justiça. 

Os agentes de AI da Enter também ajudam na formulação dos recursos, nas audiências e no cálculo dos custos judiciais.

“Estamos criando um sistema operacional do contencioso. Todos os workflows vão fazer parte desse produto, que estamos batizando de EnterOS,” Mateus Costa-Ribeiro, o CEO e fundador da Enter, disse ao Brazil Journal.

Desde sua primeira captação, em março, a Enter escalou de forma substancial. A startup conquistou 10 novos clientes, incluindo gigantes como a Latam, Mercado Livre, Magazine Luiza, Santander, Itaú e Banco Mercantil, e aumentou seu share of wallet nos clientes em que já estava. 

A startup já gerencia cerca de 30% de todos os processos de consumidores contra seus clientes, mas esse número é bem maior nos clientes que já estão há um ano na base. 

“Quando entramos nos clientes, tipicamente temos um share of wallet de uns 15%. Em 12 meses, isso cresce para perto de 60%,” disse o fundador.

Segundo Mateus, a rodada de hoje vem para acelerar o ganho de escala, com a entrada em mais empresas de grande porte — o que demanda um investimento alto na frente. 

“Percebemos que existe uma demanda grande pelo produto, mas para entrar nesses clientes precisamos fazer um investimento upfront para aumentar nosso time de engenharia, de vendas e de AI deployment, que é o time que fica alocado dentro do cliente, ajudando na implementação da solução.”

A Enter não abre sua receita, mas Mateus diz que o tamanho do contrato médio que ela tem com os 15 clientes que ela atende que são listados em Bolsa é de R$ 4 milhões por ano — o que já daria uma receita anual de R$ 60 milhões. 

O fundador também disse que a startup vai rodar 250 mil processos judiciais este ano, o equivalente a 14% de todos os processos cíveis das 10 empresas que mais recebem processos do Brasil.  

Para o fundador, o crescimento da Enter será dividido em três capítulos.

“O primeiro é nos tornarmos a plataforma referência, usada para ajudar os advogados em todos os casos consumeristas no Brasil. O segundo é expandir em oportunidades adjacentes, como processos trabalhistas e reclamações no Procon e no BC. Já temos cases nessas áreas, mas ainda não começamos a escalar,” disse ele.

“Por último, pensamos em internacionalizar o negócio. Mas seria algo para daqui uns 3, 4 anos.”

Os outros fundadores da Enter são Michael Mac-Vicar, que foi CTO por 12 anos da Wildlife, o unicórnio brasileiro de games, e Henrique Vaz, que teve passagem pela Tesla e foi CMO da Wildlife.