A TerraMagna acaba de captar US$ 40 milhões numa rodada Série A que vai financiar a expansão de sua solução de crédito e serviços financeiros para o agronegócio.
A maior parte dos recursos foi em dívida (US$ 30 milhões) estruturada pela Milenio Capital, fundada por ex-sócios da Navi e da SOW Capital.
Já a parte de equity foi co-liderada pela Softbank e pela Shift Capital, a gestora de growth que já investiu na Kovi, na rede de cafeterias The Coffee e na Bluefit.
A rodada também teve a participação de atuais acionistas, uma lista que inclui a ONEVC, MAYA Capital, Accion Venture Lab, The Yield Lab e Canary.
A TerraMagna foi fundada em 2017 por dois engenheiros elétricos do ITA sem nenhum background no agro: Bernardo Fabiani e Rodrigo Marques.
Os dois queriam empreender e escolheram o agronegócio pela vantagem competitiva do Brasil. A ideia de trabalhar com crédito veio depois que a dupla conversou com um amigo banqueiro que explicou as dificuldades (e riscos) de dar crédito para o setor.
“No agro você tem o risco climático, de doenças, de câmbio, do preço de insumo, das commodities, e da qualidade do grão. No final de tudo isso, tem ainda o risco da inadimplência,” Bernardo disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, há ainda duas dificuldades adicionais para quem quer dar crédito nesse mercado: a distribuição e a cobrança.
“No crédito consignado você acessa as empresas e coloca o consignado para o funcionários. No home equity você ‘soca’ dinheiro no Google Ads e capta clientes. Mas no agronegócio, alguém vai ter que ir até a fazenda e fazer a venda lá,” disse Bernardo.
Segundo ele, isso faz com que poucas empresas se aventurem nesse mercado, que é basicamente dominado pelo Banco do Brasil e pelos próprios fornecedores de insumos, que dão crédito ao produtor na hora da venda.
O mercado de sementes, fertilizantes e defensivos, por exemplo, movimenta US$ 40 bilhões/ano no Brasil, dos quais US$ 32 bi são financiados. Do total financiado, mais da metade vem das próprias tradings e produtores dos insumos, segundo o fundador.
“Isso faz com que um cara que não deveria dar crédito tenha que dar, carregando por meses o risco de crédito e da safra.”
A TerraMagna criou uma solução para resolver o problema.
A startup se integra às tradings e aos produtores de insumo, que passam a oferecer o crédito da fintech a seus clientes. (A garantia é sempre a própria produção do agricultor). A TerraMagna já tem parceria com mais de 100 dessas empresas, incluindo nomes como Agrogalaxy e FMC.
O modelo é um ganha-ganha: para os fornecedores, a solução tira o risco de crédito de seu balanço ao mesmo tempo em que garante que ela não perca vendas por falta de funding.
Já para a TerraMagna a parceria elimina a barreira da distribuição, uma vez que ela aproveita a capilaridade dos parceiros; além de ter acesso ao histórico dos produtores com essas empresas, o que ajuda a robustecer seu modelo de análise de crédito.
A startup levanta funding por meio de produtos como CRAs e outros instrumentos de dívida estruturados em parceria com a Milenio Capital.
A TerraMagna tem disponibilidade de crédito de R$700 milhões entre CRAs, LCAs e esses outros veículos.
A empresa começou dando crédito para a compra de insumos, mas tem planos de crescer em outras duas frentes no médio prazo: fechando parcerias com outros tipos de fornecedores, como fabricantes de silos ou distribuidores de diesel; e começando a vender outros produtos financeiros, como seguros agrícolas e opções para travar o preço da commodity ou do câmbio.
“No agro você tem que trabalhar com mais cautela do que em outros setores. Temos duas safras no ano, e não 12 meses, então se você está testando um novo produto, você vai conseguir testar isso uma vez por ano, ou no máximo duas,” disse ele.
“Outro ponto é que se o negócio não funcionar bem, além de perder seu tempo você vai perder na hora a confiança do fornecedor. Num setor de margem baixa, se acontece qualquer coisa que afeta o resultado, ele nunca mais volta a trabalhar com você.”