A má notícia: apareceu mais uma rede social, e o ‘peer pressure’ para você entrar vai ser enorme.

A boa notícia: quem está dentro está adorando.

Bem-vindo ao Clubhouse, a rede social que cresceu ainda mais rápido que o TikTok, passando de 600 mil para 6 milhões de usuários de dezembro para cá.

Fundada em abril de 2020 por Paul Davison e Rohan Seth, dois ex-funcionários do Google, a startup já vale US$ 1 bilhão. A firma de venture capital Andreessen Horowitz é o principal investidor, com participação de Kortschak Investments e Tim Kendall.  

O Clubhouse se define como uma rede de “drop-in audio”. Você estava por perto e resolveu tocar a campainha do amigo para uma visita informal. A ideia é essa: entrar por acaso ou curiosidade numa sala e ficar por 2 minutos ou talvez algumas horas. E gerenciar o FOMO (fear of missing out). 

“É um podcast live,” diz Javier Villamizar, operating partner do SoftBank que usa a plataforma há meses. “Os diferentes níveis de interação e acesso fazem muita diferença. As conversas são curadas, nenhuma inteiramente aberta. Na maior parte das salas, você precisa de um convite para ter o privilégio de speaker, uma experiência bem diferente de Twitter ou Facebook, nos quais você posta alguma coisa, e qualquer um pode compartilhar sua opinião ou mesmo insulto.”

Mas calma. Não é pra todo mundo.

Boa parte do buzz do Clubhouse vem do fato de que — por enquanto — você só pode entrar se for convidado por alguém. (Cada membro tem direito a dois convidados.) Já tem gente, inclusive, oferecendo dinheiro por um convite. Na prática, você pode baixar o app, fazer o pré-cadastro e entrar numa lista de espera. O aplicativo envia para seus contatos que já estão na rede uma notificação dizendo que você está na espera. Eles podem liberá-lo sem usar um convite.

Cuidado! Quando você entra numa sala ou evento do Clubhouse como ‘speaker’, seu microfone está automaticamente ligado, o que já rendeu gafes iguais àquelas do Zoom no começo da pandemia. Convém desligar rápido — ou pensar bem no que diz.

Cada perfil tem uma foto, uma bio, o número de seguidores, seguidos e o nome da pessoa que o convidou. Você seleciona interesses e pode seguir clubes — alguns bem interessantes —, recebendo notificações de eventos ou conversas que sigam esses critérios. Você pode entrar ou sair a qualquer momento (usando a função leave quietly). Os speakers ocupam o primeiro bloco da tela, seguidos pelos “seguidos pelos speakers” — se estiver nessa categoria, você pode levantar a mão e ser convidado para falar. A última categoria é “outros na sala.” Alguns eventos são públicos, outros fechados e invite-only.

Por enquanto, o Clubhouse só funciona nas plataformas iOS. Há boatos — nada oficial — de que a versão para Android pode chegar em março.

Outra parte do apelo da rede é poder ouvir personalidades como Elon Musk e Mark Zuckerberg, que já apareceram no “The Good Time Show”, uma espécie de programa de rádio ao vivo. 

O programa é apresentado por um casal: uma funcionária do Facebook e seu marido, sócio na Andreessen Horowitz. Felicia Horowitz, esposa de Ben Horowitz, organiza um evento disputado nos sábados à noite: a “Felicia Horowitz Dinner Party”. Ontem à noite, a sala lotou rapidamente, chegando ao limite de 5 mil participantes.

Obviamente, ninguém sabe se o Clubhouse se tornará hegemônico ou se é uma mania que vai passar. O mercado ainda discute como a rede funciona e como pode ser usada para negócios ou marketing. Uma consultora está estudando a plataforma como uma alternativa menos invasiva para um evento com uma personalidade global. 

“A interação das pessoas no palco garante um dinamismo e proximidade entre os participantes, e a qualidade do conteúdo vai ser fundamental para o sucesso da rede. O Clubhouse tem um grande potencial — como Twitter e Tiktok — mas as grandes plataformas devem continuar sendo WhatsApp e Instagram”, diz Dennis Wang, sócio da Igah Ventures e ex-vp do Nubank.

Há também uma questão de banda larga. Assim como o Instagram, o Clubhouse requer um consumo de banda muito alto, cerca de 20MB por 10 minutos, o que pode ser uma barreira de entrada. 

“O Clubhouse tem um grande desafio pela frente: fazer com que os produtores de conteúdo e moderadores entendam sua plasticidade. Você não vai replicar a automação de marketing do Instagram. Se você entra numa sala em que o assunto é x, em 15 minutos já é outro, em meia hora, já mudou várias vezes”, diz o especialista digital Rene Abe. 


Jennifer Queen é diretora da FSB Comunicação com foco em startups e venture capital.