O Federal Reserve provavelmente terá que subir os juros acima do previsto, dado que o mercado de trabalho permanece forte e a inflação nos EUA tem se mostrado resistente, disse o ex-secretário do Tesouro americano, Larry Summers, numa entrevista à Bloomberg TV na sexta-feira.
Summers foi um dos primeiros a alertar para os riscos da disparada na inflação depois de anos de juros próximos a zero e da ampliação dos gastos fiscais.
Falando à Bloomberg após a divulgação dos dados de criação de empregos melhores que o esperado, Summers disse que resta ainda “um longo caminho” à frente para controlar a inflação.
“Toda hora [o Fed] aumenta sua previsão de inflação e sua estimativa da taxa de desemprego final. Todos nós já estivemos no aeroporto, e eles dizem que o vôo vai sair às 7h30, depois às 8h30 e depois às 9h30. Quando eu vejo isso acontecendo, eu acho que vai sair às 11,” disse Summers, que chefiou o Tesouro no Governo Clinton.
Hoje, a curva precifica que a Fed Funds chegará a 5% em março – 1 ponto percentual acima do nível atual. Mas para Summers, esse aumento esperado pode se revelar insuficiente.
“Seis [por cento] é um cenário que posso colocar no papel,” ele disse quando a Bloomberg pediu seu palpite sobre a taxa terminal após a sequência de altas do Fed. “Isso me diz que 5% não é uma boa ‘best guess’.”
Os departamentos de research de alguns bancos americanos, como o JP Morgan, esperam um pico de 5% no atual ciclo de alta. A Goldman recentemente elevou sua estimativa para 5,25%, a mesma do Bank of America.
Nas quatro últimas reuniões de seu comitê de política monetária, o FOMC, o Fed decidiu elevar a taxa de juros em 0,75 ponto percentual. A próxima decisão será anunciada dia 14 de dezembro e, como indicado pelo presidente Jerome Powell, o ritmo do aperto monetário será reduzido.
O mercado espera uma alta de 0,5 ponto percentual, o que elevará a taxa básica para a faixa de 4,25% e 4,5%. Há um ano, a taxa estava fixada no intervalo entre 0 e 0,25%.
Summers disse que um dos melhores indicadores do núcleo da inflação americana é o aumento dos salários – e esse número segue em alta.
Depois de atingir o pico em junho, a inflação americana perdeu força, mas permanece bem acima da meta de 2%. O número mais recente do indicador de preços preferido do Fed, o personal-consumption expenditures price index (PCE), mostrou uma alta de 6%, enquanto o núcleo (que exclui alimentos e energia) teve variação de 5% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Summers disse que é possível que a China relaxe um pouco sua política de zero-covid em resposta aos protestos, e isso pode ajudar as commodities e setores da economia global.
“O desafio para os chineses é que eles têm apenas um quinto de nossas UTIs e um terço de nossos enfermeiros em termos per capita, e eles não têm muita imunidade, então [a covid] pode espalhar como um incêndio, e vai ser uma situação assustadora. Eles podem salvar sua economia ou salvar a população em saúde quase perfeita, mas não conseguirão fazer as duas coisas.”
Para ele, “mais cedo ou mais tarde eles terão que relaxar [a política de covid], e eles não estão ganhando nada adiando isso. Uma saída gerenciada dessa política é a coisa certa a fazer, mas vai ser difícil…”
Last but not least, Summers previu que os países emergentes poderão ter problemas na medida em que as três maiores economias do mundo – EUA, China e Europa – entram em recessão. “E essa será uma recessão com os juros relativamente altos, não a recessão de juros baixos que já vimos no passado, e isso também vai ser problemático para os mercados emergentes.”