O episódio final de Succession vai ar ar hoje e, a julgar pela repercussão que esta 4ª e última temporada vem tendo nas redes sociais, o número de fãs que se sentirão órfãos de sua série favorita – entre os quais me incluo – será enorme.

Nada mais justo.

Os episódios desta season finale escreveram um novo capítulo na história da TV.

A importância de Succession pode ser equiparada a de outros blockbusters de crítica e público como Game of Thrones, Breaking Bad, Os Sopranos e The Wire, que influenciaram diversos outros seriados, moldando a forma de se fazer e assistir televisão neste século.

O que é um fenômeno, pois, ao contrário das demais, não há em Succession nenhum personagem pelo qual o espectador com senso ético médio consiga torcer ou ter empatia. São todos desprezíveis, execráveis, canalhas, sociopatas – e ainda assim, ou por isso mesmo, fascinantes.

A série é centrada na família Roy, cujo patriarca, Logan, construiu um império midiático, a Waystar Royco. Enfrentando problemas de saúde e já idoso, ele vê seus quatro filhos disputarem o controle da empresa e sua aprovação.

O problema é que nenhum dos herdeiros demonstra capacidade, talento ou preparo para sucedê-lo: são, cada um à sua maneira, disfuncionais e ineptos, mas lançam-se em uma disputa fratricida, estabelecendo e rompendo alianças ao sabor das circunstâncias.

Declaradamente inspirada na família Murdoch, controladora da News Corp e da Fox News, a série ecoa a crise das democracias liberais, o crescimento do conservadorismo na política e a crise da mídia tradicional.  Succession transita com êxito por temas polêmicos e atuais, como o controle e manipulação da mídia, a governança corporativa e o poder político.

O maior mérito da série é seu roteiro primoroso, com diálogos e frases memoráveis, personagens complexos e bem construídos que permitiram a quase todos os excelentes atores brilhar em algum momento.

As locações foram um show à parte, levando o espectador a vislumbrar a vida no ‘top 0,0000000001%’ da pirâmide, ora “viajando” em iates espetaculares pelo mar da Croácia, ora “participando” de reuniões em luxuosos refúgios nos fiordes noruegueses e, com mais freqüência, “visitando” apartamentos de múltiplos andares em Manhattan.

A quarta temporada tem início com várias questões cruciais e urgentes que formam uma espécie de tempestade perfeita para a disputa familiar: a empresa está para ser vendida para um bilionário tech (que muitos imediatamente associaram a Elon Musk), os filhos estão temporariamente unidos contra o pai em razão desta venda, e os Estados Unidos estão a dias de uma eleição presidencial polarizada em que a Waystar Royco pode ter influência decisiva e cujo resultado pode selar seu destino.

Para piorar, logo no terceiro episódio um dos personagens principais morre, bagunçando ainda mais todo o ambiente já complicado.

Outra grande sacada dos roteiristas foi fazer com que nessa temporada final cada um dos 10 episódios se passasse em um dia específico, em seqüência, sem nenhum salto temporal.

E, mais impressionante: 10 dias com muitas intrigas e reviravoltas, em que os aparentes vencedores de um episódio são claramente vencidos no próximo, mantendo-se a tensão e o suspense sempre no máximo.

Sem nenhuma dúvida, este é um marco entre os seriados de TV e um gol de placa da HBO, que antes mesmo de chegar ao fim já deixa saudades.