Está faltando matcha no Japão, o maior produtor mundial do pó verde.
A alta no consumo do produto, graças à exportação e ao aumento do turismo no país, pressionou a frágil cadeia produtiva e criou gargalos de oferta que agora afetam o consumo da própria população japonesa, disse a Bloomberg.
O matcha — extraído de folhas jovens da Camellia sinensis, a mesma planta que dá o chá verde e o chá preto — foi adotado por blogueiras de saúde ao redor do mundo nos últimos anos, mas é um ingrediente usado no Japão há séculos, principalmente na tradicional cerimônia do chá.
Com concentração elevada de nutrientes e antioxidantes, o matcha entrou no zeitgeist das redes sociais e começou a aparecer não só em infusões como em outras receitas gastronômicas e produtos de wellness.
As exportações do ingrediente cresceram 25% em 2024 segundo o Ministério da Agricultura japonês, para US$ 250 milhões; e o consumo interno também avançou, em grande parte suportado pelos 37 milhões de turistas que visitaram o país no ano passado.
O problema nesse caso é que a demanda tem crescido ao mesmo tempo em que a oferta está recuando, disse a Bloomberg.
A quantidade de matcha produzida no Japão em 2023 foi apenas 78% do volume realizado em 2008, um declínio que o governo atribui ao envelhecimento dos produtores e que ajuda a explicar o desabastecimento recente do ingrediente.
A Ippodo Tea, uma produtora tradicional de matcha, anunciou recentemente que suspenderia a venda de certos itens e elevaria os preços de vários outros devido ao aumento dos custos de insumos, disse a Bloomberg.
Já a Marukyu Koyamaen, que produz e comercializa o ingrediente há três séculos em Kyoto, disse ao canal de notícias que precisou impor limites de compra para garantir o fornecimento a clientes de longa data em templos, santuários e outros locais que usam o matcha para fins religiosos ou cerimoniais.
“Há uma batalha por matcha em todo o país”, Chitose Nagao, dona de um café em Tóquio chamado Atelier Matcha, disse à Bloomberg. “Até mesmo grandes produtoras e vendedoras têm tido que recusar encomendas porque não há produto para vender a novos clientes.”
A casa de cultura Sakura Experience, que oferece aulas de cerimônia do chá em Kyoto, ainda não foi afetada pela escassez porque compra o matcha por meio de um contrato direto com produtores da cidade de Uji.
Ainda assim, o cenário preocupa. “Está se tornando difícil não apenas para estrangeiros comprarem matcha, mas também para japoneses que vêm a Kyoto,” Aya Ito, a vice-presidente da organização, disse à Bloomberg.