Nos últimos meses, à medida em que as consequências da recessão e da Lava Jato se tornavam mais palpáveis, grandes gestores, reguladores e banqueiros começaram a se fazer a seguinte pergunta: será que existe um risco sistêmico para o setor financeiro do País? Em outras palavras, um banco em dificuldades pode causar graves danos a outros?

Pelo menos até agora, a resposta parece ser um sólido não.

Vencida essa discussão, veio a pergunta seguinte. “Dentro de um sistema estável, há elos fracos que vão precisar de ajuda?”

A resposta hoje é: muito provavelmente.

Dentro do próprio sistema financeiro, os elos fracos já foram identificados por nome e CNPJ, e não será surpresa se uma solução de mercado for apresentada pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) nas próximas semanas. Para monitorar a situação, o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pediu ao Banco Central um cálculo sobre o impacto da Lava Jato (e problemas colaterais) no sistema, de acordo com uma fonte.

Com o País vivendo quase um grande pedido de recuperação judicial por semana, as provisões nos bancos começam a se acumular com uma rapidez inesperada.

Para ficar em alguns nomes recentes, a OAS pediu proteção contra seus credores, citando uma dívida total de 8,9 bilhões de reais. A Galvão Engenharia, 1,84 bilhões. A Eneva, 1 bilhão. A IMPSA, 2,3 bilhões.

Uma fonte familiarizada com créditos duvidosos disse que o total de dívidas de empresas incapazes de honrar seus compromissos — somando as que já pediram recuperação judicial e as que ainda o farão — chega facilmente a 50 bilhões de reais. Além das atingidas pela Lava Jato, empresas com passivo em dólar que não protegeram seus balanços também estão dando problema aos bancos.

“Além das RJs já pedidas, há outras situações delicadas que ainda não se converteram em recuperação mas ainda podem, porque a Petrobras não está pagando às empreiteiras envolvidas na Lava Jato,” diz esta fonte.

Um cálculo do Estadão coloca o valor das dívidas em recuperação judicial em consequência da Lava Jato em 15 bilhões de reais até agora, um número que vai dobrar se, como é altamente provável, a Schahin Oil & Gas também pedir recuperação. A Schahin Oil & Gas tem dívidas de 14 bilhões de reais e, entre segunda-feira e ontem, seus títulos no mercado internacional desabaram de 60 centavos para 40 centavos.

Ontem, o juiz Sergio Moro sequestrou 163 milhões de reais que a Queiroz Galvão estava prestes a receber de um precatório do Estado de Alagoas, apertando o torniquete no pescoço de mais uma empreiteira.

Onde, então, reside o risco no sistema financeiro?

Bancos que não tinham tradição em dar crédito, e ainda assim se meteram nesse negócio quando a economia estava bombando, estão destinados a ter problemas quando o ciclo de crédito vira, particularmente quando não possuem uma base ampla de captação em rede e dependem do crédito interbancário. Ou, ainda, bancos internacionais cuja operação brasileira trabalha sob a premissa de que, se houver dificuldades, o balanço será resgatado pela matriz.

Diz uma fonte do setor: “A irresponsabilidade creditícia, a falta de critério de alguns bancos é tão grande que, num cenário como o deste ano, você pode ter nomes que você não espera encontrando dificuldades.”