O homem que não segue nenhuma regra de moda que arrisque a próxima meia branca com calça preta sem ser Michael Jackson.

Regras de moda existem por algum motivo — e é impossível resistir a uma boa lista no fim de semana.

A lista da vez foi criada pelo americano John LeFevre. Foi ele quem criou um dos perfis anônimos mais satíricos do Twitter, o Goldman Sachs Elevator (inclusive com uma versão brasileira que se tornou um must na Faria Lima).

O próprio LeFevre se inspirou no CondeElevator, um perfil que contava as fofocas e maldades da outrora poderosa Condé Nast, a editora da Vogue e da Vanity Fair. Houve inúmeras sindicâncias e RHs em turbulência para se tentar descobrir quem fazia as gracinhas.

Banqueiro de investimentos em Nova York, Londres e Hong Kong, LeFevre trabalhou para o Citigroup e a Salomon Brothers, mas foi impedido de ingressar na Goldman por uma cláusula de non-compete. (Passar vontade é um motor criativo.)

Aos 43 anos, LeFevre já publicou três best sellers. Em sua newsletter The Graze, publicada pela Beehiiv (uma concorrente do Substack), ele listou suas 125 regras de estilo e moda.

Num serviço de utilidade pública fashionista, traduzimos aqui as 37 regras principais e tropicalizamos algumas das sugestões – com nossos comentários em negrito.

A Faria Lima não é exatamente Wall Street, nem LeFevre é um dândi italiano saído do filme A Grande Beleza – mas ele sabe do que está falando.

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Vestir-se bem é uma habilidade que se aprende
(às vezes)

Sempre se vista como se você fosse acabar indo a um bom bar ou restaurante

Use marcas que a maioria das pessoas nunca ouviu falar
(se é luxo, tem arte, inovação ou personalidade, não está à venda no free shop do aeroporto)

Se a marca é muito visível, ela é bem menos estilosa do que você pensa (e demonstra uma ansiedade de status)

Não esqueça: não usar relógio é o novo Patek

Se você insiste em usar colônia sempre, ninguém deve senti-la a um metro e meio de você ou cinco minutos depois de você sair de uma sala
(Usuários de elevadores agradecem)

Use cores sazonais. Ternos terrosos e sombreados no outono, cinzas e azuis no inverno, tons pastéis mais coloridos no verão
(até 2046 o homem brasileiro vai aprender isso)

Não tenha medo de usar rosa ou lavanda
(chora, Damares)

Seu celular é parte do seu look. Evite a capinha. Capinha de celular é para os pobres ou irresponsáveis
(se LeFevre conhecesse o Brasil, saberia que celular é para ficar escondido a maior parte do tempo)

Mochilas são para hipsters e crianças em idade escolar
(Ele não sabe o que o brasileiro tem que fazer pra dissimular que está carregando um laptop…)

Camisa azul com colarinho branco é aceitável. Essa homenagem aos anos 80 funciona melhor com rosa claro ou azul bebê, e sem gravata
(Compreensivo demais com uma moda que deveria ter ficado nos anos 80 pra sempre, junto com as ombreiras ou as calças baggy)

A era de calças cargo ou baggy já passou.

Não seja xexelento. Troque sua underwear com frequência. O homem comum se desfaz de uma cueca depois de sete anos de uso. Não seja esse cara.
(No Brasil, somos mais limpinhos que isso, espero)

Ajuste ternos, calças, camisas, até seus jeans
(bons alfaiates e costureiras ainda têm seu lugar)

Faça algumas camisas sob medida. O benefício excede em muito o custo.
(idem ibidem)

Vista-se como seu corpo é, não como você gostaria que ele fosse
(realismo apenas, e um saudável uso do espelho)

Não às pregas e barras nas calças
(revolta em quem comprou sua última roupa há 20 anos)

Fuja do monograma
(Revolta na velha guarda da Faria Lima, mas ele tem toda razão)

Botões dourados ou prateados nunca
(desculpa aí, boomer)

Terno com tênis, jamais
(depende do terno, do tênis e da profissão. Muito artista manda bem assim)

Invista mais em poucas peças
(Troque 10 Shein por 1 Chanel)

Visite a loja de uma marca masculina onde você nunca esteve antes
(para quem quer variar e ousar, sugerimos as brasileiras Handred, Misci e J. Boggo, e as internacionais Oteyza, Nuno e Shanghai Tang)

Jogue fora seu vestuário universitário
(Aquela camiseta de Harvard ou Stanford já deu)

Meia branca só quando você estiver praticando esportes, com moletom, tênis ou bermuda. Em nenhuma, nenhuma outra situação fora de casa. Mesmo. Jamais.
(Ele não escreveu essa regra porque não conhece o senso de estilo do homem brasileiro)

Use calças coloridas, menos as cáquis
(Strike em boa parte da Faria Lima)

Além de relógios, abotoaduras e aliança de casamento, não use joias. A pior coisa para uma mulher ver em um homem com uma aliança no dedo é ver que ele tem anéis em todos os dedos
(O boliche continua)

Faça 50 flexões e agachamentos todos os dias. Boa forma nunca sai de moda
(Pouco pro Brasil, esse cara nunca esteve em Ipanema)

Use o mesmo hidratante que você usa no rosto no seu pescoço
(e comece a fazer isso já na juventude)

Troque sua carteira por um porta-cartões bem fininho
(e pelo amor de Deus, nunca coloque a carteira no bolso de trás da calça)

Pelos faciais devem ser deliberados.
(Barba por descuido ou preguiça é sinal de desleixo)

Não existe temperatura que exija gola rolê. Circuncize já o pobre suéter

(Certo em parte: as golas cacharel do Steve Jobs, por exemplo, eram do Issey Miyake. Quanto às roupas de inverno, o PIB tem pouca oportunidade de vestir o que compra em Aspen ou nos Alpes)

Compre um smoking antes de completar os 30. E se mantenha nesse tamanho.
(Ele quer ser cancelado por gordofobia)

Beba menos
(deve ter relação com o item anterior)

Manicures e pedicures não são indicadas apenas para mulheres
(estamos em 2023, para quem ainda se sente inseguro nesse departamento)

Ternos marrons são pra turma do back office
(os justiceiros sociais não vão captar a piada)

Inspire-se em um ícone de estilo
(Paul Newman, Tom Ford, Seu Jorge, Pedro Pascal, Paulinho da Viola, Oskar Metsavaht, Marcio Gomes, Airon Martin… para os mais afrontosos, Harry Styles. A mulherada pira, e muitos homens o invejam (alguns piram também)

Leia mais. Ser culto e sagaz é qualidade que jamais se desvaloriza, e estilo é reflexo do seu intelecto
(nada, nenhuma peça de roupa, fragância, Botox ou academia em dia, causa impressão mais duradoura que um bom papo de quem lê muito, é informado, tem a gramática em dia e não usa muletas como “top” a cada duas frases. Nada exercita tanto o cérebro e enriquece o mundo fora da profissão quanto frequentar teatros, cinemas, museus e livrarias –  sem fazer esforço. Piadas espertas (para quem conta e para quem entende) dependem muito de estar com as referências em dia. Não há melhor ímã humano que alguém com boas e novas histórias para contar)

Regras são para ser obedecidas pelos tontos, e apenas como referência para os sábios. Mas lembre-se, regras de moda existem por algum motivo, então use com bom senso.