A venda de planos corporativos de telefonia não mudou nada nos últimos tempos.
Os clientes corporativos são obrigados a assinar contratos de fidelidade de 24 meses, não há flexibilidade para cancelar ou adicionar linhas, e a gestão dessas delas ainda precisa ser feita no Excel, já que a plataforma fornecida pelas telcos é no mínimo limitada.
Esse foi o diagnóstico de Artur Negrão, Lucas Rosa, Hudo Assenço e Maria Eduarda Kumlehn, que largaram seus empregos em startups de tecnologia para tentar resolver as dores desse mercado.
“Teve um caso muito didático de uma empresa de tecnologia que tinha 2 mil linhas e o relacionamento só foi piorando conforme ela ia adicionando mais linhas,” disse Artur. “Como tinha a cláusula de fidelidade, a cada novo pedido de linhas ela tinha que assinar novos contratos, então quando ela chegou para a gente ela tinha centenas de contratos diferentes com prazos de vencimento diferentes.”
Para desenrolar esse nó, o trio fundou a Salvy, uma startup que começou no ano passado como uma operadora de telecom virtual focada apenas no segmento B2B.
O grande diferencial, no entanto, é que a Salvy acabou com os contratos de fidelidade e criou uma plataforma de gestão que permite às empresas ter visibilidade de todas as suas linhas e flexibilidade para cancelar ou adicionar linhas, dar upgrades e downgrades no plano, e integrar os dados com o sistema do RH.
Mais recentemente, a Salvy lançou também uma solução de ‘device management’, ajudando as empresas a gerir seu hardware – como os notebooks e celulares entregues a funcionários.
A Salvy já conquistou quase 200 clientes, incluindo startups como a Beep Saúde, Wine, The Coffee e Caju – e isso sem ter nenhum time comercial.
Agora, a startup acaba de levantar uma rodada seed de US$ 1 milhão para escalar o negócio, contratando executivos de vendas e investindo mais em tecnologia para aprimorar seus produtos e lançar novos.
A rodada foi liderada pela SaaSHolic, e teve a participação do Y Combinator e de investidores-anjo que haviam entrado em rodadas anteriores, incluindo João del Valle (fundador do Ebanx) e Ariel Lambrecht.
Como parte do investimento da Y Combinator, os fundadores vão passar o primeiro trimestre de 2024 em São Francisco.
William Cordeiro, da SaaSHolic, disse que a Salvy chamou a atenção da gestora porque, “com um time enxuto de sete pessoas, eles estão crescendo quase 20% ao mês e com um net retention rate de incríveis 206%.”
O net retention rate – uma métrica da saúde de negócios de assinatura – mede o crescimento do faturamento sem considerar novas vendas. Ou seja, só a base atual de clientes da Salvy tem dobrado o tamanho da empresa com o upgrade dos serviços e a adição de novas linhas.
A Salvy também está apostando numa tese de ‘hyperbundle’ – a partir de um negócio inicial, oferecer cada vez mais produtos de um mesmo segmento, cobrindo toda a necessidade do cliente.
“Acreditamos que a inteligência artificial e os modelos de linguagem (LLMs) vão acelerar drasticamente o desenvolvimento de novos produtos em SaaS, permitindo com que novas startups criem negócios multiproduto desde cedo, resolvendo o problema inteiro do cliente com um portfólio de produtos integrado, interoperável, compartilhando UX e maximizando o preço do bundle,” disse William, da SaaSHolic.
Nessa tese de hyperbundle, o benchmark da Salvy é a Rippling, uma startup americana que fornece softwares e soluções para as áreas de TI das empresas — mas não opera com a solução de telecom.
Em março, a Rippling levantou uma rodada de US$ 500 milhões que avaliou a empresa em mais de US$ 11 bilhões.
O próximo passo da Salvy na construção desta tese será criar um software de gestão das assinaturas de SaaS das empresas, já que “há muito desperdício e problemas de gestão nessa frente também,” disse Artur.
“Tem muito do funcionário sair, por exemplo, e a empresa não cancelar a assinatura dele do software, e ficar muitos meses pagando.”