BRASÍLIA — Entre mortos e feridos, a Reforma da Previdência parece avançar na comissão especial da Câmara, mas intervenção do presidente Jair Bolsonaro para defender tratamento especial para as forças policiais deixou atônitos até mesmo políticos experientes.

Se já havia um incômodo entre os defensores da reforma sobre o pouco engajamento de Bolsonaro com as novas regras para aposentadorias, o dia ontem nos corredores da Câmara e do Senado foi de olhos arregalados e cabelos em pé.

“Está tudo em risco”, dizia um senador favorável à mudança das regras previdenciárias. 10518 be40975c d3fb 0009 000b b457af136a4c

Outro deputado com experiência dizia: “é Bolsonaro sendo Bolsonaro”, sobre a predileção do presidente de agir no varejo para resolver problemas de sua base eleitoral em vez de se preocupar com questões nacionais.

Na prática, o presidente ameaçava atrasar a votação de uma reforma crucial para seu próprio governo.

Pressionado por críticas de policiais, em especial federais e rodoviários, Bolsonaro ligou para o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo, e mandou recado ao relator da proposta de emenda constitucional, Samuel Moreira (PSDB-SP).

Em um governo em que as principais lideranças do partido atendem por ‘major’ e ‘delegado’, o corporativismo não é necessariamente uma surpresa. 

Mas o ‘zero um’ parece não ter se dado conta que saiu da campanha eleitoral e agora tem a responsabilidade com todo o País — e não apenas com a sua claque.

Categorias da segurança pública, em especial policiais federais, já têm tratamento diferenciado na PEC: enquanto a população em geral se aposentaria aos 62 anos, no caso das mulheres, e aos 65 anos para os homens, a categoria teria idade mínima de 55 anos. 

Mas eles querem mais: pretendem retroceder a regras anteriores a 2003 e manter integralidade e paridade – ou seja, se aposentar com o valor da última remuneração e ter os mesmos aumentos concedidos a quem está na ativa. 

As forças não aceitam ainda ter de cumprir o pedágio de 100% do tempo que faltaria para se aposentar, como regra de transição.

No final da última semana, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou ao Brazil Journal que iria conversar com o presidente para pedir sua ajuda a demover o PSL de apresentar destaques, na comissão especial, sobre a aposentadoria de policiais. 

Tudo para não atrasar o calendário cuidadosamente montado e que prevê a chegada do texto ao Plenário da Câmara na semana que vem. 

A ideia era — e ainda é — concluir a votação na Câmara antes do recesso parlamentar de julho

Se isso realmente acontecer, será apesar de Bolsonaro.