O Morgan Stanley não gostou do que viu até agora nas primeiras movimentações do governo eleito e rebaixou a sua recomendação para as ações brasileiras.
Segundo o banco, o aumento de gastos em discussão para a proposta de emenda constitucional ao Orçamento de 2023 é maior do que era a expectativa do mercado.
Ao mesmo tempo, o novo governo permanece calado a respeito de qual será a nova âncora fiscal e não apresentou até agora o nome do ministro da Fazenda. Para o Morgan, os indícios recentes reduziram a chance de o comando da economia ficar com um ortodoxo.
Tendo em vista o aumento do risco fiscal no próximo ano, o banco rebaixou a Bolsa brasileira de overweight para neutral.
“A sequência de eventos recentes reduz a probabilidade de indicação de um ministro da Fazenda ortodoxo, o fiscal frouxo deve levar a juros mais altos por mais tempo e taxas reais mais elevadas para os títulos devem debilitar a aparentemente atrativa valuation das ações,” resumiu o Morgan num relatório hoje de manhã.
Ainda segundo o banco, se de fato ocorrer um cenário de política fiscal mais frouxa, “os próximos anos deverão ser positivos para os ativos brasileiros de renda fixa, mas não para as ações”.
O Morgan fixou em 125 mil pontos sua estimativa para o Ibovespa ao final de 2023. Hoje o índice negocia próximo a 109 mil pontos.
Em outro relatório, divulgado na sexta-feira, o banco analisa cenários possíveis para as contas públicas. Os analistas André Loes e Thiago Machado dizem que o primeiro movimento do governo eleito no xadrez fiscal foi preocupante.
Se a proposta apresentada for mantida e não houver aumento de impostos, os analistas preveem que a dívida pública bruta vai bater em 90% do PIB daqui a quatro anos. Hoje o endividamento está em 77% do PIB.
O estouro no Orçamento previsto no waiver da chamada PEC da Transição é da ordem de R$ 200 bilhões. Resta saber qual será o número final, depois da tramitação no Congresso.
“A vitória nas eleições não significa que a sociedade e os mercados aceitem assinar um cheque em branco para o próximo governo,” afirmam. “Por isso, esperamos uma reação negativa às propostas.”
O relatório diz que a atual curva de juros deixou de precificar a redução da Selic no próximo ano. Na verdade, embutiu nos valores negociados uma alta de 0,85 ponto percentual.