Quando voltar de férias hoje, o CEO da GP Investimentos, Antonio Bonchristiano, deve anunciar medidas que vão reduzir substancialmente o tamanho da gestora de fundos de private equity, que depois de uma série de sucessos nos anos 90 teve seu histórico de investimentos maculado por várias apostas malsucedidas.

Antonio Bonchristiano

O plano inclui demissões, a desativação de algumas áreas e uma admissão por parte da GP de que não deve captar novos fundos num futuro próximo.

O downsizing já começou. No fim do mês passado, Paulo Mattos, chefe da área de investimentos em infraestrutura e — e ex-chefe de gabinete do presidente do BNDES, Luciano Coutinho — deixou a empresa e se juntou à boutique RK Partners como head de private equity. Outro sócio da área, Helcio Tokeshi, também saiu da empresa. Fontes próximas à GP também esperam a saída do diretor comercial, Raymond Trad, na casa desde 2007.

Outras mudanças planejadas podem levar a GP a ter seus três principais executivos morando fora do país. O presidente do conselho de administração da gestora, Fersen Lambranho, mora em Londres há cerca de dois anos. Dentro da GP, especula-se que Bonchristiano, o CEO, está de mudança para a Suíça. Finalmente, um outro sócio sênior — o atual CEO da Magnesita, Octavio Pereira Lopes — está de mudança para Londres como parte da mudança da sede da Magnesita para lá.

Na indústria de private equity, o sucesso de uma franquia é função direta de seu histórico de retornos recentes, e o mercado não perdoa.

O último fundo captado pela GP — de US$ 1,1 bilhão — foi levantado em 2008 e investiu em sete empresas. Destas, duas foram um desastre completo.

Na Imbra, uma rede de clínicas de implantes dentais, a GP investiu 140 milhões de dólares. Quando o negócio desandou, vendeu a companhia pelo preço simbólico de 1 real, mas acabou não conseguindo se livrar de mais de 100 milhões de dólares em passivos trabalhistas e junto a consumidores. Na San Antonio, uma empresa de serviços para a cadeia do petróleo, a GP tomou dívida bancária e comprou a empresa em 2007, às vésperas da crise. Sete anos depois, baixou a prejuízo 100% do valor de suas ações na empresa.

Na capa da EXAME, em 2008: as good as it got Na capa da EXAME, em 2008: as good as it got

Um outro investimento, a rede de lojas de material esportivo Centauro, tem um endividamento de cerca de oito vezes sua geração de caixa anual, de acordo com uma fonte próxima à empresa. O GPCP V, como o fundo é chamado, está com uma taxa interna de retorno (TIR) de 7,2% em reais, e uma TIR negativa de 2,3% em dólares. Os dados são de setembro de 2015.

Em abril de 2015, a agência Reuters revelou que a GP anunciaria em breve planos para levantar 1,5 bilhão de dólares para quatro fundos de private equity, imóveis e investimentos em infraestrutura, mas a captação não se confirmou.

Recentemente, no entanto, a GP convenceu o fundo soberano Abu Dhabi Investment Authority (ADIA) a investir de 500 a 700 milhões de dólares num veículo para comprar o controle da BR Properties . E, em maio do ano passado, a GP captou 172 milhões de dólares para um veículo que tem 24 meses para fazer uma aquisição nos EUA ou Europa. A gestora ainda está à procura de um alvo.

Enquanto outras gestoras captaram grandes fundos antes da Grande Contração do Brasil, e agora estão começando a investi-los, a GP não tem nada captado nem nenhum grande plano de captação no horizonte, o que justifica os ajustes para um tamanho menor.