A cada dia que passa, o sentimento de que o Brasil está se descolando do resto do mundo – da pior forma possível – vai crescendo entre os empresários e no mercado financeiro.
Apesar do País ter um dos maiores juros reais do mundo, o dólar chegou ao patamar de R$ 5,30 esta semana, nossa Bolsa tem a pior performance entre seus pares, e a meta de superávit fiscal para este ano foi adiada.
Nesta conversa com o Brazil Journal, Ricardo Lacerda, o CEO do Banco BR Partners, critica a postura do Presidente Lula e diz que o arcabouço fiscal fracassou pelo desprezo do Presidente.
Segundo Lacerda, um dos principais assessores financeiros do País e um banqueiro sempre vocal sobre o cenário econômico e a conjuntura política, “parece que o Lula parou ali na disputa da eleição – como se o retorno à Presidência não o tivesse vingado daquilo que considera injustiças cometidas contra ele.”
Estamos chegando na metade do ano, e a bolsa brasileira tem o pior resultado até agora em 2024 dentre as 15 maiores do mundo. A que você atribui essa performance?
O Brasil está numa posição bem ruim. Muita gente perdeu dinheiro aqui nas últimas décadas e vários investidores acabaram jogando a toalha. Fora grandes empresas e fundos que estão aqui para o longuíssimo prazo, o Brasil hoje não atrai investimentos.
Eu passei a maior parte da minha carreira ajudando empresas estrangeiras a investirem no Brasil. Mas hoje estamos no movimento contrário. Tem muita gente querendo ir embora. Isso é péssimo, porque o País não tem poupança interna pra bancar os investimentos necessários. Teríamos que ter um esforço para atrair o capital estrangeiro, mas o que vemos é exatamente o contrário: discursos antiquados, mudanças abruptas de regras, protecionismos arcaicos e chicanas jurídicas para reverter o investimento estrangeiro. Tudo isso está pesando contra o Brasil, depreciando nossas empresas e a nossa moeda, e mantendo o juro nas alturas.
Que papel você atribui ao Governo Lula neste clima que vai se criando?
Parece que o Lula parou ali na disputa da eleição – como se o retorno à Presidência não o tivesse vingado daquilo que considera injustiças cometidas contra ele. E essa atitude dele travou o País, está travando.
Ainda que tenha sido eleito com a contribuição de uma parcela relevante dos eleitores moderados, o Presidente está desconsiderando esses eleitores. Ele está alimentando a polarização e mantendo o País numa permanente queda de braço.
Que avaliação você faz da política fiscal do Governo?
Quando o arcabouço fiscal foi aprovado, eu aplaudi. Apesar de notórias deficiências, achei que eliminava o risco de cauda de um descontrole fiscal. Mas o arcabouço tinha que ganhar vida própria. E isso não aconteceu.
O arcabouço fracassou em parte por suas falhas, mas sobretudo pelo desprezo do Presidente. Lula não acredita em equilíbrio fiscal e isso destrói a credibilidade da equipe econômica.
Como o senhor avalia o papel do Ministro Fernando Haddad?
O Ministro Haddad é um brasileiro sensato e com uma agenda construtiva. Mas não adianta termos um ministro com a cabeça no lugar sabotado pelo Presidente da República.
Já vimos isso com Dilma e Levy, e a vontade do Presidente sempre prevalece. Isso é muito transparente e o mercado enxerga tudo de imediato. Haddad é muito bom, mas francamente não importa. Se o Presidente não levar a sério o equilíbrio fiscal, o Brasil vai ladeira abaixo. Já está indo, de certa forma.
Como você viu a decisão do COPOM de reduzir os juros em apenas 0,25%?
A decisão foi correta, mas acho que o dissenso na última reunião do COPOM foi muito negativo. Custou caro ao [Gabriel] Galípolo, que provavelmente será o próximo presidente, e ao próprio Roberto Campos Neto, que está saindo. Ambos perderam credibilidade, porque ficou a impressão de que agiram por motivações políticas. Ainda que este não seja o caso, e eu realmente acredito que não seja, ficou essa impressão que agora terá que ser desconstruída, infelizmente com muita dificuldade.
Como você enxerga o cenário econômico na segunda metade deste Lula 3?
Vejo com muita preocupação. A economia está desacelerando e o apoio do governo no Congresso se esvaindo. Acho que se acontecer o esperado nas eleições municipais podemos ter um governo moribundo lutando para se manter no poder. Isso pode eliminar as chances de reformas que o País tanto precisa.
E o que isto tudo significa para a eleição de 2026?
O Lula é muito hábil e pode se reinventar, mas isso parece uma possibilidade cada vez mais remota. A democracia recente no Brasil mostra que o maior adversário de um Presidente no poder é ele mesmo. Na minha opinião, Lula ainda é o maior favorito para 2026. Mas a direita está muito forte. O [Ronaldo] Caiado é um candidato sólido, com uma bagagem de bons governos. Há que se reconhecer que é alguém que evoluiu muito desde 1989, parece ter se modernizado – assim como o agro brasileiro se modernizou.
Agora, o Tarcísio [de Freitas] e algum outro candidato que tenha o apoio do ex-Presidente também teriam muita viabilidade eleitoral, mas teremos que observar o comportamento do Lula. Se o Presidente insistir nesse discurso atrasado do PT, provavelmente será derrotado.