Há muito tempo que o relógios da Technos não marcam a hora da ação subir.
Mas ontem à noite, a empresa anunciou uma transação que pode mexer os ponteiros de seu valor de mercado.
A Technos vendeu direitos creditórios de ações indenizatórias por R$ 27,75 milhões à vista, o equivalente a 15% de seu valor de mercado no fechamento de ontem (R$ 185 milhões).
Os direitos vendidos referem-se a ações movidas pela empresa contra a União e a Suframa, a Superintendência da Zona Franca de Manaus.
Trata-se de uma operação semelhante à que a Cosan fez com a Jus Capital no final do ano passado — e o sinal mais recente de que diversos CFOs estão acordando para o valor de um ativo non-core que dorme na gaveta.
O comprador dos direitos foi a Quadra, uma gestora especializada em ativos alternativos ilíquidos, e a Technos terá direito a participar do upside a depender da performance das ações. Victor Bicalho, o ex-CFO que deixou a Technos há quatro meses, assessorou a companhia na estruturação da operação.
A ação da Technos — que negociou a R$ 18 em seu pico — agora negocia a R$ 2,38. Nos últimos cinco anos, a desvalorização do real comprimiu a margem da companhia, cuja base de custos é mais de 80% dolarizada. O câmbio saiu de R$ 1,98 no início de 2013 para R$ 3,90, e o lançamento do Apple Watch aumentou o ceticismo de setores do mercado sobre o futuro dos relógios tradicionais.
O desafio da Technos é tão grande que se tornou um case da Harvard Business School publicado em 2017.
Se quiser realizar mais valor para o acionista, a Technos poderia passar a fazer uma securitização ainda mais óbvia: a de sua carteira de recebíveis, que segundo o balanço da companhia tem um prazo médio de 120-150 dias. Os recebíveis totais representam mais de 100% do valor de mercado da companhia.
Depois de dois anos e meio encolhendo, as vendas da Technos em seu canal tradicional estão começando a se estabilizar, enquanto as vendas no B2C (o ecommerce das marcas e as lojas próprias em outlets) continuam crescendo. Infelizmente, este canal responde por apenas 10% do faturamento, contra 90% do primeiro.