Os relógios da Technos indicam: é hora da empresa buscar crescimento em outro lugar.
Apesar de ter cerca de 40% do mercado de relógios no Brasil, o segundo trimestre da Technos foi desalentador.
As vendas brutas caíram 12,8%, ano contra ano, para 120 milhões de reais. Todas as linhas de relógios foram mal: os modelos clássicos caíram 14,5% e os “de moda”, 7,5%.
A empresa disse que a Copa atrapalhou e que os lojistas fizeram menos encomendas por causa da economia fraca. Para responder ao cenário adverso, a Technos cortou despesas na carne — 30% ano contra ano — e com isso conseguiu aumentar seu lucro em 6%.
“O relógio é um item mais vendido em datas comemorativas, é um símbolo de status, e é um produto discricionário, não é um bem necessário,” diz um gestor que está analisando as ações da Technos. “Isso tudo, num cenário de varejo pior e com um canal de vendas difícil — principalmente joalherias, que defendem muito sua margem — tudo isso levou a uma conjuntura muito ruim para a empresa neste começo de ano.”
Mas para além de um trimestre desafiador, o resultado da Technos mostra a vulnerabilidade de uma empresa que depende de um só produto num mundo em que as pessoas cada vez mais olham a hora nos smartphones.
Para boa parte dos consumidores, há muito tempo o relógio deixou de ser um instrumento de precisão para se tornar um acessório de moda. E com o iminente lançamento dos relógios da Apple e do Google, as vendas de empresas como a Technos ainda podem piorar na margem.
“Essa discussão sobre o futuro do relógio está sendo feita lá fora,” diz um outro gestor que tem ações da Swatch, a fabricante de relógios suíça. “Se você pegar os relatórios dos analistas sobre a Swatch, eles só falam disso. A única coisa que dá pra dizer é que daqui a 10 anos, a Technos vai ser bem diferente do que é hoje, só não sei o quê.”
Para manter o interesse dos clientes e continuar crescendo, a Technos passou os últimos anos fazendo aquisições e investindo em inovação. No ano passado, adquiriu a Dumont, incorporando dez novas marcas ao seu portfólio, incluindo as licenciadas do Grupo Fossil como Diesel, Marc Jacobs, Michael Kors, Armani Exchange e Adidas. Hoje, a empresa vende modelos de 99 reais a 6 mil reais.
Os resultados, no entanto, não acompanharam. A Technos fez seu IPO há exatamente três anos, a 16,50 reais por ação. Apesar de todas as aquisições e de ter multiplicado suas vendas por cinco em apenas três anos, seu lucro líquido em 2014 deverá ser mais ou menos o mesmo do ano do IPO, e a ação da Technos hoje negocia 30% abaixo do preço da oferta.
A Technos sabe que não pode depender só de relógios para continuar crescendo e já teve conversas com várias marcas de acessórios — como a Chilli Beans — mas não conseguiu ainda fazer uma aquisição (a um preço razoável) que diversifique suas receitas.
Junto com seu balanço do segundo trimestre, a Technos também anunciou a saída de seu CEO, Joaquim Ribeiro, que estava no cargo havia seis anos. No mercado, muitos gestores acreditam haver correlação entre a saída e os resultados recentes, mas, dentro da Technos, se diz que a transição de poder estava sendo planejada há algum tempo. Ribeiro foi substituído pelo diretor financeiro da empresa, Thiago Picolo.
Mais de 15% do capital da Technos está nas mãos dos executivos da empresa. Só Ribeiro, que permanecerá no conselho de administração, é dono de 5% da Technos.
“É claro que o cenário macro influencia, mas como a Technos é a líder do setor, o papel dela é fomentar a demanda com produtos e marketing,” diz outro gestor.