A Acordo Certo, uma startup fundada há dois anos, está tentando levar dinamismo e inovação a um dos setores mais burocráticos (e analógicos) da economia: a cobrança de dívidas.
Dominado por grandes call centers, o setor funciona há décadas da mesma maneira: um exército de funcionários passa o dia ligando e pressionando os inadimplentes, basicamente tentando vencê-los pelo cansaço.
A Acordo Certo quer fazer tudo diferente. Ao invés de centenas de funcionários, alguns algoritmos. E, no lugar da abordagem agressiva e invasiva, uma postura amigável.
A Acordo Certo faz as cobranças apenas por canais digitais, enviando mensagens nas redes sociais ou no email dos inadimplentes. (Ligar está fora de cogitação).
“Queremos entregar uma experiência agradável pras essas pessoas que sempre foram maltratadas pelas empresas de cobrança,” André Monteiro, um dos fundadores, disse ao Brazil Journal. “O cara já está endividado, provavelmente com problemas pessoais, a última coisa que ele quer é alguém ligando e enchendo o saco.”
A grande sacada é se posicionar como um parceiro dos endividados, em contraposição às empresas de call center que em geral vestem a camisa dos credores.
No ano passado, a startup fechou 1,2 milhão de acordos, resgatando R$ 512 milhões em dívidas. O faturamento, que vem de uma comissão em cima do valor movimentado, foi de R$ 16,5 milhões — três vezes maior que em 2018. Para 2020, a meta é chegar a R$ 30 mi.
Nas mensagens, a Acordo Certo explica como pode ajudar o consumidor a quitar suas dívidas e tenta estimular o usuário a se cadastrar na plataforma, onde terá acesso a todas as dívidas com as empresas que estão plugadas à plataforma e poderá negociar os descontos diretamente de lá.
“É tudo automatizado e escalável,” diz o co-fundador. “Usamos inteligência artificial para entender quem temos que abordar e como abordar essa pessoa da melhor forma possível. Como nossos custos são baixos, também conseguimos dar um desconto bem maior.”
Hoje, a Acordo Certo tem acesso a base de inadimplentes de 20 empresas, como Santander, Itaú, Kroton e Claro. No total, são mais de 25 milhões de CPFs — quase metade de todos os negativados no Brasil —, dos quais 4,5 milhões já se cadastraram na plataforma.
Segundo Monteiro, a startup está em negociações avançadas para incluir também o Bradesco e Banco do Brasil.
A Acordo Certo não é única tentando aposentar os call centers. A startup compete com outros players nativos digitais, como a Blu 365, a Quero Quitar, e a recém criada Serasa Limpa Nome, a divisão de cobrança de dívidas do birô de crédito.
Ao menos num primeiro momento, parece haver espaço para concorrência. “Não tem exclusividade nessas parcerias”, diz Monteiro. “No ranking da Porto Seguro, por exemplo, somos os primeiros no digital. Fizemos 39% do total recuperado pelos digitais e o segundo colocado fez 20%.”
Fundada por ex-sócios da Clear Corretora — Monteiro, José Rosseto, Paolo Mason, Mauro Bennati e Roberto Lee — a startup levantou cerca de R$ 5 milhões desde que surgiu. Agora, está no meio de uma rodada Series A para captar US$ 5 milhões que serão usados para investir em tecnologia, principalmente big data, e na expansão comercial.
Outro plano: incluir uma solução de crédito na plataforma — em parceria com fintechs como Creditas e Geru — para permitir que o usuário troque uma dívida cara por uma mais barata.