Mesmo com o IPCA acima do esperado em janeiro – que fez o DI abrir ontem – o Santander reviu para baixo sua projeção de inflação para o ano e ainda antecipa um ciclo mais acelerado de queda na Selic, com a taxa caindo para 8,5% ao fim de 2024 e 7,5% em 2025.

“No Brasil, a dinâmica da desinflação surpreende e o ciclo de juros deve ser prolongado,” disse a economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, num relatório enviado a clientes hoje.

Em dezembro, o Santander esperava que a Selic encerrasse o ano em 9,5%. Mas o cenário mais benigno para a inflação e o início do ciclo de redução de juros nos EUA e em outras grandes economias globais vão dar espaço para o Banco Central reduzir mais rapidamente a taxa, que deverá fechar o ano em 8,5%.

“Projetamos que haverá redução da taxa Selic em todas as reuniões do Copom em 2024,” afirma o banco.

Ana Paula VescoviPara os analistas do Santander, o IPCA deverá ficar em 3,4% este ano. Em dezembro, a previsão era de 3,9%.

“Acreditamos que os preços mais baixos das commodities agrícolas e industriais vão persistir ao longo do ano e serão o principal fator para a desaceleração dos bens comercializáveis,” escreve o Santander.

Os riscos de alta na inflação, diz o banco, estão em fatores como o mercado de trabalho apertado, o reajuste real do salário mínimo e o imponderável da geopolítica. Para 2025, a estimativa segue em 4%.

No que diz respeito ao desempenho do PIB, o banco estava na ponta mais pessimista do mercado, com estimativa de crescimento em 1,2%, mas agora elevou a projeção para 1,5% – praticamente em linha com o consenso de mercado, que está em 1,6%, segundo o último Focus.

A maior resiliência do PIB, afirma o Santander, deve-se a fatores como a alta dos gastos das famílias num ambiente de emprego elevado e o aumento nas despesas do governo. “O pagamento de precatórios no início do ano e medidas parafiscais contribuirão para dar algum impulso à demanda interna.”

O banco manteve a sua estimativa de que o déficit primário ficará em 0,9% em 2024. Segundo o Santander, houve uma melhora de curto prazo na tendência de arrecadação, mas segue “desafiadora” a meta do governo de zerar o déficit e será difícil até mesmo cumprir o piso da meta, que é um déficit de 0,5%.

“Estamos observando uma melhora de tendência de curto prazo na arrecadação, mas a distância para alcançar o resultado previsto no Orçamento é de cerca de R$ 290 bilhões em receitas líquidas, fato que reforça os riscos e desafios do ponto de vista fiscal,” afirma o time do banco.

A depender dos resultados no lado da receita, a alteração da meta fiscal deverá ser debatida na revisão do Orçamento em maio.