O Santander acaba de refazer suas projeções e agora vê uma economia mais irrigada em 2024 e uma expansão menos tímida do PIB.
O time comandado por Ana Paula Vescovi, a ex-secretária do Tesouro, manteve a estimativa do crescimento para este ano em 1,9%. Mas o avanço esperado para 2024 subiu de 0,5% para 1%. Em 2025, o PIB deverá crescer 1,5%, projeta o Santander.
“Um início mais precoce do ciclo de flexibilização monetária, e em ritmo ligeiramente mais acelerado, implica condições financeiras menos restritivas no final de 2023, possivelmente com algum impulso para a atividade econômica em 2024,” disse a equipe num relatório de hoje.
Com relação aos juros, o Santander antes projetava uma Selic de 10,5% ao final de 2024, e agora espera 10% — contra um consenso de mercado que projeta a Selic a um dígito no final do ano que vem.
Para o Santander, o espaço de manobra do BC continua limitado “dada a reancoragem parcial” das expectativas de inflação.
“Além disso, a atividade real está desacelerando de forma gradual, o que implica não haver razão para ‘comprar muito seguro’ contra uma desaceleração,” diz o banco.
Ainda segundo o Santander, os desafios fiscais e um “superaquecimento” nos serviços reduzem as probabilidades de a Selic recuar para 9,25%, como indica o Boletim Focus, do BC.
Na visão do Santander, o mercado de trabalho se mantém “superaquecido”, com a taxa de desemprego nos níveis mais baixos desde meados de 2015, ao redor de 8%. Com relação ao aumento dos salários, houve uma desaceleração na margem, mas o rendimento médio nominal e a massa salarial nominal seguem em forte expansão – 10% e 11%, respectivamente ao ano.
“Continuamos projetando um aumento na desocupação ao longo de 2023, pois esperamos a continuação dos efeitos contracionistas do aperto monetário,” diz o Santander. “Mas agora esperamos que a taxa de participação no mercado de trabalho fique abaixo de sua média histórica (63%) pelo menos até 2025. Estimamos uma taxa média de desemprego de 8,2% em 2023 e 9,3% para 2024 e 2025.”
Essas taxas, diz o banco, ficarão abaixo de suas estimativas para a taxa de desemprego “estrutural” (NAIRU). É um fator que contribui para a maior resistência à queda na inflação.
Para o IPCA, o banco reduziu de 5,2% para 4,9% a sua estimativa para 2023. Mas manteve inalterada as projeções de 3,9% em 2024 e de 4,5% em 2025 – números dentro da margem de tolerância, porém acima do centro da meta oficial de 3%.
O banco reviu também as suas projeções para o câmbio. O dólar deverá encerrar o ano em US$ 5,20 – em vez de US$ 5,40 – e deverá ficar em US$ 5,35 ao final de 2024 – e não mais US$ 5,50.
No campo fiscal, a promessa de déficit zero do ministro Fernando Haddad não entrou no cenário projetado pelo Santander. O banco vê um déficit primário de 0,9% do PIB em 2024 e de 0,7% em 2025.
“Vemos uma performance cíclica mais fraca da arrecadação federal nos últimos dados, com impacto ainda tímido das medidas já adotadas pelo governo,” diz o Santander. “Por outro lado, o governo deve divulgar medidas adicionais para aumentar as receitas, que devem passar pelo crivo do Congresso.”
As projeções apontam para uma trajetória de alta da dívida pública, “o que ilustra os desafios para a estabilização da dívida e consolidação fiscal à frente.”