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A notícia de que a SABMiller e a Cervejaria Petrópolis assinaram um acordo de produção e distribuição no Brasil está sendo vista como uma forma da SABMiller de resistir à tão aguardada oferta hostil da Anheuser-Busch InBev (ABI) — ou de se vender por um preço ainda mais caro.

Cheio de simbolismo, o acordo é um movimento agressivo da SABMiller contra a Ambev, o celeiro de talentos da ABI e a matriz de sua cultura corporativa.

A SABMiller ainda não confirmou oficialmente o acordo com a Petrópolis, mas os acionistas da Ambev estão tentando prever o impacto do acordo para a empresa.

Se o acordo se confirmar e a ABI não comprar a SABMiller, isto poderá dificultar a vida da Ambev numa de suas principais estratégias: aumentar sua participação no mercado de cervejas premium.

Estas marcas — principalmente Stella Artois e Budweiser — hoje fazem 7% do volume da Ambev, e a empresa quer dobrar este percentual. O lançamento da marca Corona no Brasil ainda este ano é parte desta estratégia.

“O trabalho que a SABMiller fez no Peru, Colômbia e na América Central com marcas ‘super premium’ é superior ao que a Ambev fez no Brasil,” o analista Carlos Laboy, do Banco Brasil Plural, escreveu num relatório para clientes. “Em mercados menos desenvolvidos como o Peru, a SABMiller conseguiu que as marcas super premium chegassem a 12% do seu mix.”

Para Laboy, o Brasil ainda engatinha quando o assunto são as marcas super premium. “Não há o mesmo grau de diferenciação de embalagens, e a ‘escada de preços’ poderia ser muito mais comprida”, diz ele.

“Os gestores da Ambev são humildes e otimistas: eles sabem que a Ambev é uma empresa jovem e que é apenas uma questão de tempo eles conquistarem seus objetivos. Mas se a SABMiller entrar no Brasil, o caminho vai ser mais difícil. A SABMiller é muito boa nesses arranjos de JV: é só ver o que fizeram na Turquia, Rússia, China, EUA, África e no sistema Coca-Cola para se ter ideia.”

No entanto, de acordo com um especialista em assuntos antitruste, o acordo SABMiller-Petrópolis tem muitas chances de ir pela janela caso a ABI compre mesmo a SABMiller.

“O mais provável é que o CADE peça o fim deste acordo como condição para a aprovação da aquisição da SABMiller pela ABI,” diz Cleveland Prates, ex-conselheiro do CADE e agora sócio da Pezco Microanalysis.

Ao se aproximar da Petrópolis, a SABMiller está mostrando à ABI que pode lhe dar muita dor de cabeça, e que o único jeito de evitar este confronto seria um casamento entre as duas — com uma festa bem cara, e a ABI pagando a conta.