Depois de um dia caótico no setor de saúde — com a Dasa e a Oncoclínicas caindo cerca de 13% cada — a Hapvida entregou um alívio: um quarto trimestre ligeiramente acima das projeções do sellside.
A sinistralidade — o principal indicador que o mercado tem olhado nos últimos trimestres — caiu para 69,3%, o menor número desde a fusão da Hapvida com a Notredame Intermédica e a primeira vez que a empresa ultrapassa a marca dos 70%.
Esse número — que veio em linha com as projeções dos analistas — se compara aos 72,9% do quarto tri de 2022 e aos 71,9% do terceiro tri do ano passado.
Já o EBITDA ajustado superou em 6% o consenso de mercado, com a Hapvida entregando R$ 950 milhões – também o melhor número desde a fusão; o mercado projetava R$ 898 milhões.
O CEO Jorge Pinheiro disse ao Brazil Journal que esse “não é um tri isolado. Se você olha a sequência, a empresa vem melhorando tri a tri seu patamar de rentabilidade, ao mesmo tempo em que continuamos investindo na expansão da rede.”
Segundo Jorge, o resultado mostra que “ainda não chegamos nas margens históricas do pré-pandemia, mas estamos no caminho certo.”
Antes da covid, a Hapvida rodava com uma margem EBITDA de cerca de 15%. No quarto tri, a margem foi de 13,7%, contra 9,2% no mesmo período do ano anterior.
O CEO também destacou a alavancagem da empresa, que caiu para 1,38x EBITDA no quatro tri, contra 1,58x no tri imediatamente anterior.
Um ano atrás, a alavancagem era de 2,45x. Para lidar com isso, a companhia levantou R$ 2,3 bilhões entre um aumento de capital e uma operação de sale leaseback.
A melhora da sinistralidade na Hapvida – o destaque do resultado de hoje – é resultado de uma série de medidas que a companhia adotou ao longo do ano passado.
A operadora de saúde fez reajustes que chegaram a 15% em alguns trimestres, mas também trabalhou na integração de ativos adquiridos recentemente — com a implementação de sistemas e padronização das operações — e na unificação de algumas áreas nacionalmente, como a de sinistros e hospitais.
Ainda assim, o CEO disse ver mais espaço para a queda da sinistralidade ao longo do ano.
“Ainda estamos concluindo a última fase da integração da GNDI, em São Paulo, que foi iniciada agora em março, e temos alguns reajustes para fazer este ano, ainda que patamares menores,” disse ele.
A Hapvida também teve uma geração de caixa forte no quarto tri, com uma conversão de EBITDA para caixa — excluindo os décimos-terceiros salários — de 63%, em linha com a média histórica. O CEO disse que essa geração de caixa tem ajudado na desalavancagem orgânica.
Do lado negativo, a operadora continuou registrando perdas líquidas de vidas, com uma redução de 61 mil beneficiários no quarto tri e de 380 mil no ano. A companhia tem 8,7 milhões de segurados em saúde e 7 milhões em odontologia.
Jorge disse que essa dinâmica de perda líquida de vidas deve continuar no primeiro e segundo trimestres, dado que a empresa continua revendo seu portfólio.
A partir do terceiro tri, no entanto, ele acha que a companhia deve voltar a crescer.
“Temos uma geração de vendas brutas muito forte e dinâmica, o que nos dá confiança de que quando a revisão do portfólio acabar vamos voltar ao crescimento,” disse o CEO.
Nos últimos trimestres, a Hapvida tem priorizado as vendas em regiões onde tem rede própria forte ou planos de investir em uma. “Temos 2.500 leitos próprios ociosos. Estamos direcionando os esforços comerciais para essas regiões.”
A ação da Hapvida está em alta de 33% nos últimos 12 meses. A companhia vale R$ 28 bilhões na B3.
O balanço ainda está sendo reportado sobre as regras contábeis do IFRS-4. Como todas as outras seguradoras, a Hapvida pretendia publicar este tri já sob o IFRS-17 – a nova regra para reportar contratos de seguro – mas o trabalho só será concluído nas próximas semanas.
O CFO Luccas Adib disse que o atraso se deve à complexidade de consolidar os dados das 50 aquisições que a empresa fez nos últimos cinco anos (muitas usando sistemas legados); pelo fato de a Hapvida não ser uma seguradora pura, o tipo de empresa para o qual a regra foi criada; e pelo fato da maior parte dos sinistros da Hapvida serem na rede própria, o que cria uma complexidade adicional.
“Estamos trabalhando das 7 à meia-noite, de segunda a segunda. Matamos o Carnaval e vamos continuar sem folga até o trabalho ser concluído.”