A Localiza divulgou resultados acima do esperado pelo mercado no terceiro trimestre, o primeiro com números combinados com a compra da Unidas.
Mas um dos indicadores veio na ponta contrária: a depreciação média por carro.
Enquanto no trimestre anterior a depreciação média na área de locação de carros na Localiza era de R$ 3 mil – e de R$ 1,2 mil há doze meses –, os valores subiram para R$ 4,3 mil entre julho e setembro. Já na gestão de frotas o número subiu para R$ 4,2 mil – ante R$ 3 mil no trimestre anterior e R$ 1,3 mil há um ano.
“Eu esperava um valor que nem chegava a R$ 3,3 mil. Se esses números continuarem subindo, o mercado vai revisar a projeção de lucro da Localiza para os próximos anos”, diz um gestor comprado na ação.
Ontem, as ações da Localiza caíram 7,3% com o resultado; hoje, abriram em queda de mais 4,7%.
Para o CFO Rodrigo Tavares, não há motivos para pânico. Na verdade, o que existe, segundo ele, é uma normalização do mercado após anos de bonança para as vendas de seminovos. Com as montadoras sendo afetadas com paralisações tanto pela covid-19 quanto pela falta de peças, os preços dos carros usados dispararam – e virou uma importante fonte de receita para a Localiza e o setor.
Agora, a situação é diferente – com preços dos carros se estabilizando e os juros altos afetando as vendas. Não à toa, a Localiza vendeu 43,6 mil carros no terceiro trimestre (10 mil a menos do que o Itaú BBA esperava) com um preço médio de R$ 61 mil, 5% menor do que o trimestre anterior.
Por isso, Tavares diz que a ordem dentro da companhia é aumentar a eficiência e aumentar a velocidade da busca por sinergias da fusão com a Unidas.
“As margens mais altas com seminovos eram um upside transitório, com carros sendo vendidos até com lucro ágio, e acredito que o mercado tenha entendido isso. Com o ciclo se normalizando, fica claro que o negócio da companhia é alugar e gerir frotas”, disse Tavares ao Brazil Journal.
A margem EBITDA ajustada da empresa ficou em 58,9% em locação de carros (redução de 2,2 p.p. na comparação anual) e em 73,6% na gestão de frotas (alta de 8,1 p.p. em um ano).
De qualquer maneira, a Localiza vai ter que colocar mais dinheiro para renovar as suas frotas. Antes da pandemia, a empresa comprava carros com um preço médio de R$ 40 mil e uma depreciação de R$ 2 mil. Agora, os números são R$ 80 mil e R$ 4 mil, respectivamente.
De janeiro a setembro, a empresa adicionou quase 100 mil veículos à sua frota, que tem uma média de 15,1 anos. Nora Lanari, diretora de relações com os investidores da Localiza, disse que a empresa está saudável para continuar ampliando os números sem comprometer as suas finanças.
Mas no mercado também há uma visão de que a ação, apesar de ser ligada a uma empresa que tem entregados os resultados, pode estar cara.
“O price action é uma correção dado ao nível de valuation da Localiza versus o resto das empresas de consumo no Brasil,” disse outro gestor.