Para muitos pulsos, o primeiro Rolex foi um relógio de segunda mão – correndo o risco de ter comprado gato por lebre. 

A partir de agora, no entanto, será possível comprar um Rolex usado com certificado de autenticidade e garantia emitido pela própria marca suíça. 

A fabricante dos relógios de luxo mais vendidos do mundo lançou hoje o programa Rolex Certified Pre-Owned, na prática criando um mercado autorizado de revenda, como já fazem outras marcas.   

Inicialmente, os relógios com o selo oficial de garantia poderão ser comprados nas lojas da tradicional joalheria Bucherer em seis países – Suíça, Áustria, Alemanha, França, Dinamarca e Reino Unido – mas a partir do próximo ano, outros revendedores autorizados ao redor do mundo poderão aderir ao programa. 

Os compradores dos usados “oficiais” receberão um tag com o selo “Certified Pre-Owned” que assegura a origem e garante o funcionamento do relógio. Mas para receber o tag, os exemplares à venda terão que ter pelo menos três anos de uso, uma forma de desincentivar as revendas feitas pelos flippers – os compradores que aguardam anos na fila para vender os cobiçados relógios no mercado paralelo, por um valor acima do cobrado nas lojas autorizadas.  

Um Rolex Daytona novinho em folha, por exemplo, sai por US$ 14.500 no revendedor autorizado. Enquanto isso, no mercado de segunda mão, ele custa ao redor de US$ 31.000. E isso porque a “bolha especulativa” dos usados estourou recentemente – entre outros motivos, pela derrocada das criptomoedas. Em março, o mesmo modelo era vendido por US$ 47.000. 

A pandemia foi um dos motivos para o aumento da discrepância entre os preços de varejo e o de usados, diz Freddy Rabbat, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Luxo.

“É uma produção muito artesanal até hoje e, pelas dificuldades dos fornecedores, faltaram peças para fabricar alguns modelos,” diz Rabbat.

Para a Rolex, a venda com certificado dos relógios usados abre uma oportunidade para atrair novos clientes. Mas segundo os especialistas em mercado de luxo, a verdade é que o mercado de usados ficou grande demais para ser ignorado. 

A Deloitte estima que as vendas de relógios de segunda mão movimentem hoje algo como US$ 20 bilhões ao ano e deverá alcançar US$ 35 bilhões até 2030. 

Para Rabbat, as particularidades do Brasil vão impor dois desafios para a revenda oficial de usados: os impostos e os roubos.

Quando o representante que adquirir o relógio for revendê-lo ele terá que lançar ao menos dois tributos – ICMS e PIS/Cofins –, o que vai encarecer muito o preço final. 

Além disso, os assaltantes poderão tentar passar os relógios nas lojas oficiais. Mas quando a peça for para a revisão ela poderá ficar retida na oficina, caso seja identificado, pelo número de série, que se trata de um item roubado. Isso pode trazer prejuízos e riscos para o revendedor.

A Rolex produz anualmente 1 milhão de exemplares – e a demanda supera em muito a oferta. A empresa é dona de 30% desse mercado, com vendas totais de US$ 8,5 bilhões ao ano.  

A fabricante nasceu em Londres, em 1905. Mas depois da crise provocada pela Primeira Guerra, seus fundadores – o alemão Hans Wilsdorf e seu cunhado, Alfred Davis – decidiram se transferir para Genebra.