Rogério Xavier está confiante na Reforma da Previdência, mas aposta que a economia vai demorar a reagir, o que deveria sustentar uma política monetária ainda mais expansionista.
“Quando olho a economia rodando perto de zero e a descrição do relatório de inflação de hoje e na ata do Copom, não entendo o que o BC está fazendo”, o fundador da SPX disse num evento para clientes do BTG Pactual.
“Acho que é uma síndrome de presidente de BC novo, que quer mostrar que é hawk [duro com a inflação] e ganhar credibilidade, mas a verdade é que tem 13 milhões desempregados e a economia não cresce.”
E continuou: “O governo, o Estado, os bancos públicos estão contraindo. Sobra pra quem? Para o setor privado. E não adianta esperar que o investimento ande só porque a Previdência andou. Só vai investir quando preencher a capacidade que está ociosa.”
Conhecido por suas críticas contundentes à política monetária du jour — frequentemente nas teleconferências com investidores da SPX — Xavier, que com R$ 30 bilhões administra o maior hedge fund do País, já havia feitos comentários nesta linha ontem, no Twitter.
“A descrição da ata é de um país colapsando, não tem nada positivo. Atividade parou e o externo está afundando”, disse numa série de três posts. “A reforma será aprovada e não será ela que vai mudar a situação do país. Sim, melhorará a percepção de solvência, mas é quase uma obrigação para não quebrar.”
Para Xavier, a oportunidade de ganhar dinheiro está em vender a ponta longa da curva de juros.
“O único instrumento que aparece é a taxa de juros. ‘Ah, mas não vai fazer efeito nenhum baixar para 5%…’ Quem disse? Onde está escrito isso? Eu não só vejo oportunidade … como acho que os prêmios estão totalmente fora do lugar. Quando compara com o resto do mundo, o Brasil ainda tem uma curva muito inclinada e acho que esses prêmios vão sumir.”
Em seus relatórios mais recentes, a SPX diz estar alocada na parte intermediária da curva de juros — numa postura que classifica de ‘cautelosa, apesar de algum otimismo’.
No evento de hoje, o desânimo de Xavier com os níveis da atividade econômica foi acompanhado de um discurso mais construtivo em relação ao câmbio.
Depois de prever, antes de eleição, que o dólar poderia chegar ao patamar dos R$ 5, agora Xavier acredita que o câmbio está bem precificado, especialmente depois do enfraquecimento da economia americana.
Mas continua vendo riscos de depreciação da moeda brasileira:
“Se a gente caminhar para um cenário onde a China é o país mais impactado num cenário de desaceleração global, os termos de troca do Brasil vão sofrer — e a resposta natural é ter uma desvalorização da moeda para compensar isso”.
A SPX deu uma guinada na sua estratégia no começo do ano, desmontando a posição que apostava na abertura da taxa de juros nos Estados Unidos e que lhe rendeu um ano de retornos abaixo do CDI.
Em janeiro, a gestora fez um mea culpa: “Não acreditávamos que estávamos perto do fim do ciclo de alta nos juros americanos e poderíamos estar discutindo eventualmente até a queda dos juros em 2019. Ou seja, estávamos errados.”
Em 2018, o SPX Nimitz rendeu 3,70% contra 6,72% do CDI. Desde o início do ano, o fundo rende 4,6% para um CDI acumulado de 3,02%.