Robert Lucas promoveu uma sutil mas profunda transformação na abordagem metodológica dos problemas da macroeconomia.

Equilíbrio em economia, desde meados do século 20, significa preços e escolhas individuais que garantem o ajuste entre oferta e demanda nos mercados correntes, levando em conta as expectativas sobre o que irão fazer no futuro.

Com o passar do tempo, parte da incerteza se reduz, as condições de mercado vão se resolvendo, e o mesmo ocorre com as escolhas individuais. Esses modelos dinâmicos são filhos da Teoria do Equilíbrio Geral, de Kenneth Arrow e Gérard Debreu, dos anos 1950.

Trata-se de uma definição de equilíbrio muito diferente da utilizada pelos economistas clássicos, do século 19, que remete mais ao conceito de estacionariedade, ou de repouso, típica da física clássica.

Para os economistas clássicos, os preços de equilíbrio são determinados exclusivamente pelas condições de produção. Conhecida a tecnologia, o preço do trigo utilizado como insumo deveria ser igual ao preço do trigo produzido no fim do período.

Robert LucasEles reconheciam que era inevitável ocorrer erros nas estimativas dos produtores sobre a demanda, ou que, por exemplo, as safras agrícolas surpreendam, para mais, ou para menos. Portanto, os preços de mercado, segundo os clássicos, poderiam ser diferentes dos preços de equilíbrio.

Mas esses movimentos seriam flutuações ao redor de um ponto de atração. Existiriam razões para que os preços de mercado convergissem para os preços de equilíbrio.

Se há excesso de oferta em alguma mercadoria, o preço de mercado ficaria abaixo dos preços de equilíbrio, resultando em menor lucratividade para estes produtores. As firmas, buscando maximizar seus lucros, ajustam suas decisões, fazendo menos do que é pouco lucrativo em troca de aumentar a produção do que seja mais rentável. Por essa razão, os preços de mercado tenderiam a convergir para os preços de equilíbrio, como eles os definiam.

Esse conceito, contudo, impõe que, em equilíbrio, os preços dos insumos utilizados sejam iguais aos preços dos bens produzidos no fim do processo produtivo, levando em conta uma taxa de lucratividade uniforme. Os economistas clássicos acreditavam que, apenas nesse caso, a lucratividade seria a mesma em todas as atividades produtivas.

Essa hipótese, contudo, não é correta. Os preços do trigo e fertilizantes utilizados atualmente podem ser distintos dos preços esperados dessas mesmas mercadorias no fim do período de produção sem que isto implique diferenças na rentabilidade esperada das diversas atividades. No jargão atual, sem que exista possibilidade de arbitragem.

Em geral, os preços das mercadorias variam com o passar do tempo e as circunstâncias. O preço do trigo produzido hoje pode ser diferente do preço do trigo a ser produzido no fim da safra porque, por exemplo, são esperadas melhores condições para a produção agrícola.

Outros fatores podem importar. Mais terra pode estar sendo demandada para a produção de proteína para os animais, o que altera as condições de produção de outros bens e seus preços relativos. Podem ocorrer retornos crescentes ou decrescentes de escala, alterando as condições de produção e os preços das mercadorias que equilibram oferta e demanda.

Por essa razão, a partir das contribuições de Arrow-Debreu, passou-se a utilizar uma outra definição de equilíbrio em economia.

A moderna teoria dos preços competitivos teve origem com os trabalhos de John Hicks, que compreendeu a importância do tempo, e das circunstâncias na determinação dos preços das mercadorias. Arrow sistematizou essa abordagem em um artigo seminal com mercados sequenciais e ativos financeiros em 1953.

Na abordagem iniciada por Arrow-Debreu, as famílias e as firmas, os agentes, como economistas os denominam, enfrentam problemas a serem resolvidos que envolvem escolhas no presente e no futuro. Mais ainda, existe incerteza: ao longo do tempo, muitas coisas fora do controle dos agentes podem acontecer.

Os agentes analisam os preços existentes e formam expectativas para decidir sobre as ações atuais, além de estabelecer planos contingentes para os diversos possíveis cenários futuros.

A solução do modelo, portanto, deve identificar as trajetórias de preços e quantidades que garantem a consistência entre o que os agentes acreditam e fazem, levando em conta o que pode ocorrer nos possíveis mercados futuros. Trata-se de um conjunto de possíveis trajetórias, a depender da resolução da incerteza e outros aspectos, que podem ser incrivelmente complexas.

Esse ponto sutil foi enfatizado e disseminado na macroeconomia por Lucas e Prescott. Foi a partir dos seus trabalhos, no começo dos anos 1970, que boa parte da profissão compreendeu as implicações desta noção de equilíbrio para a modelagem dos fenômenos econômicos.

Equilíbrio na definição utilizada pela economia atual, portanto, não tem qualquer implicação de estabilidade, ou de atrator para os preços de mercado correntes. Nessa abordagem, não faz sentido falar em preços de mercado, por exemplo a taxa de câmbio, que estariam distantes do seu “preço de equilíbrio”.

Os preços que vigoram no mercado são aqueles que, nas circunstâncias atuais e dadas as expectativas, equilibram oferta e demanda. As estimativas dos economistas podem, eventualmente, identificar que esses preços poderão variar, com alguma incerteza, nessa ou naquela direção no futuro.

Quase qualquer trajetória, dependendo das circunstâncias, pode ocorrer em uma economia de mercado, inclusive as caóticas. Esse resultado foi demonstrado por diversos economistas nos anos 1970, e são conhecidos como os Teoremas “Anything Goes”.

Por essa razão, a análise econômica deve estar atenta aos detalhes do entorno, às condições que influenciam as decisões individuais.

Marcos Lisboa é economista.