A Restoque – dona das marcas Le Lis Blanc, Dudalina e John John  – reuniu-se com credores na sexta-feira e saiu com uma proposta que pode ser o início do fim de seu problema de estrutura de capital.

A reunião aconteceu porque a empresa pediu aos seus debenturistas – e conseguiu – um waiver para adiar o pagamento de juros e também uma capitalização de R$ 150 milhões prevista na emissão de março para junho.

Depois de conceder o waiver, um dos credores – a gestora WNT, que é dona de 55,8% da emissão – apresentou uma proposta para converter R$ 1,5 bilhão da dívida em ações da varejista.

Essa debênture foi emitida em 2020 no âmbito de uma recuperação extrajudicial da empresa, e somou inicialmente R$ 1,43 bilhão – mas com os juros acumulados e ainda não pagos, a dívida está próxima a R$ 1,65 bi.

A proposta de conversão apresentada pela WNT embute um prêmio de 10% sobre a cotação média de 120 dias da Restoque, avaliando o papel a R$ 1,78 – um prêmio em relação ao fechamento de sexta de apenas 3,4%.

Fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal que com esse prêmio dificilmente a operação seria concretizada, porque haveria oposição da própria Restoque. No entanto, as fontes disseram que a proposta da WNT abrirá uma negociação com os credores para a conversão da dívida, o que resolveria os problemas da estrutura de capital da empresa.

Segundo as fontes, a Restoque vai contratar um advisor para iniciar essa negociação. Um acordo exige a aprovação de 60% das debêntures em circulação.

A proposta da WNT é que, depois da conversão em ações, a dívida da empresa fique em no máximo R$ 150 milhões e que este valor tenha o prazo alongado e os juros reduzidos. A emissão original tem vencimento em 5 anos e paga CDI + 2,80%.

O pagamento de juros dessas debêntures deveria ter começado em dezembro, mas a empresa já havia conseguido um waiver dos debenturistas para adiar até 31 de março. Na sexta-feira, a empresa obteve um segundo waiver, postergando os pagamentos de dezembro e março para junho. A assembleia teve quórum de credores donos de 92,5% das debêntures, e todos foram favoráveis.  (A Restoque disse aos debenturistas que o papel foi emitido em junho de 2020 e naquele momento ninguém esperava que a pandemia se estenderia até 2022.)

Segundo a empresa, as vendas em suas lojas estão reagindo desde o segundo semestre do ano passado; a Restoque ainda não reportou os resultados do quarto tri.

Além dos juros, a debênture previa uma capitalização de R$ 150 milhões via emissão de ações, o que, segundo a Restoque,  também não seria viável nas atuais condições de mercado.

A Restoque alegou ainda que a piora do cenário macro, com o aumento da inflação e dos juros, elevou muito o custo da dívida.

A debênture foi emitida a CDI + 2,8%, o que na época equivaleria a um custo anual da dívida de 4,8%; com a Selic no patamar atual, ele se aproxima de 15%.

A Restoque enfrenta dificuldades financeiras há anos, já conviveu com brigas societárias e uma negociação frustrada para uma fusão com a Inbrands.

A empresa hoje vale R$ 118 milhões na Bolsa.

A empresa já teve entre os sócios os fundos Warburg Pincus e Advent. Atualmente, os principais acionistas são os empresários Marcelo Lima, com 26,9%; e Marcio da Rocha Camargo, com 15,5%.