Mauricio Lopes, o vice-presidente de saúde da SulAmérica, está saindo para trabalhar na Rede D’Or, múltiplas fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal.
Lopes chegou a anunciar internamente que havia acertado com a Amil para se tornar o CEO da companhia no Brasil, reportando-se a Claudio Lottenberg, o CEO da UnitedHealth no País.
Quando soube que a saída de Lopes era um fato consumado, Paulo Moll, vice-presidente executivo e herdeiro da Rede D’Or, ligou para o CEO da Sul América, Gabriel Portella, e pediu autorização para fazer uma oferta ao executivo. “Se é para ter o Mauricio fora da SulAmerica, eu prefiro ter ele aqui,” Moll disse a Portella, segundo uma pessoa a par da conversa.
Por meio de sua rede de hospitais America, a Amil é o único concorrente relevante da Rede D’Or. A negociação foi fulminante.
“Entre o ‘oi, tudo bem’ e assinar, não deu 30 dias,” disse uma fonte.
No mercado de saúde, a contratação de um dos maiores pesos-pesados do setor gerou especulação de que a Rede D’Or poderia estar se preparando para se tornar uma operadora de saúde verticalizada, nos moldes de Intermédica e Hapvida.
Nos últimos anos, a recessão fez com que as seguradoras não-verticalizadas como SulAmérica e Bradesco Saúde perdessem market share para as empresas que, donas de seus próprios hospitais, conseguem controlar mais seu custo.
O crescimento das verticalizadas — duas delas recentemente capitalizadas por IPOs bem sucedidos — pode estar fazendo a Rede D’Or pensar no futuro. Cada cliente que cancela um plano da SulAmérica ou da Bradesco Saúde e migra para operadoras como Intermédica, Hapvida e Prevent Senior (todas verticalizadas) é um paciente a menos que é tratado na Rede D’Or. Bradesco e SulAmérica respondem por quase 50% do faturamento da empresa dos Moll.
Uma eventual entrada da Intermédica no mercado do Rio — o maior mercado da Rede D’Or — é tida por gestores como questão de tempo e também poderia acirrar a concorrência.
Neste cenário, a verticalização poderia ser uma ferramenta adicional da Rede D’Or para reter clientes em seu sistema, sem prejuizo de continuar atendendo outras operadoras.
Dentro da Rede D’Or, no entanto, fontes dizem que a verticalização não está nos planos da companhia.
Para começar, tanto a família Moll quanto seus investidores de private equity professam horror a assumir risco atuarial, uma parte intrínseca à atividade das operadoras.
Em segundo lugar, essas fontes dizem que enquanto a verticalização é um imperativo nos planos de valor mais baixo, nos planos de nível intermediário e superior ela não é comercialmente viável, já que os clientes destes planos tipicamente exigem acesso a uma rede aberta e hospitais de grife, disse um executivo da empresa.
Finalmente, a escala da Rede D’Or também não resolveria o problema das grandes operadoras. Só cerca de 15% da base de clientes do Bradesco Saúde, por exemplo, é atendida na Rede D’Or, o que significa que uma fusão entre a seguradora e a rede de hospitais geraria uma verticalização mínima.
“Se Bradesco e SulAmérica quisessem ter 60% dos seus pacientes atendidos na rede próptria, eles teriam que gastar mais do que eles mesmos valem para comprar ativos e montar uma rede,” disse a fonte.
A missão de Lopes na Rede D’Or envolve um outro tipo de mudança: um novo modelo de remuneração e relacionamento com as operadoras, no qual ele mesmo já trabalhou com a Rede D’Or durante seus anos de SulAmérica.
Nos últimos dois anos e meio, a Rede D’Or foi migrando seu relacionamento com a SulAmérica do velho modelo de ‘fee for service’ — em que o hospital cobra por cada serviço prestado — para um modelo de preço fechado que inclui pacotes cirúrgicos e diárias globais. Hoje, 80% dos clientes SulAmérica são atendidos na Rede D’Or neste modelo, e o Bradesco deve chegar ao mesmo patamar no final do primeiro trimestre de 2019.
Além do modelo de remuneração, a Rede D’Or também está trabalhando num novo modelo de assistência em que a rede se compromete a coordenar o cuidado do paciente, o que envolve a gestão de doenças crônicas e a prevenção de doenças.
O discurso não é novo — é repetido cotidianamente por boa parte das operadoras — mas só o tempo dirá se estes novos modelois darão conta de reduzir os custos e conter os reajustes dos planos.
Ao experimentar com os novos modelos, a Rede D’Or está tentando se antecipar aos riscos que um sistema de saúde disfuncional impõe a seu negócio.
Como os hospitais são hoje o único elo na cadeia de saúde ainda não regulado e que ganha muito dinheiro, qualquer tentativa de reforma do sistema de saúde suplementar tenderá a incluir um rebalanceamento da viabilidade econômica de todos os players — muito provavelmente em detrimento do ROE dos hospitais.
Além disso, a chamada ‘desospitalização’ é hoje um fenômeno mundial: cada vez mais, tenta-se tratar o paciente ambulatorialmente, e não no hospital, seja sob o enfoque da maior resolutividade médica, seja pelos custos, infinitamente menores nos ambulatórios fora dos prontos-socorros da vida.
Finalmente, o negócio hospitalar também tende a ser cada vez mais desafiado por novos aplicativos de inteligência artificial, que podem tirar dos hospitais tudo aquilo que possa ser cuidado e tratado fora deles.