A Simpar reportou um primeiro trimestre com forte crescimento na receita e no EBITDA — um reflexo das diversas aquisições que a empresa fez no último ano e do investimento em caminhões e máquinas.
O lucro, no entanto, caiu, e a alavancagem subiu para um nível próximo aos covenants da dívida.
A holding da família Simões — que controla a JSL, Vamos, Movida e a Automob, uma rede de concessionárias de carros anteriormente conhecida como Original — aumentou sua receita líquida de serviços (que exclui a venda de ativos) em 64%, para R$ 5,8 bilhões no primeiro tri.
Já o EBITDA aumentou em 30%, para R$ 2 bi, em linha com as projeções do sellside.
O CEO Fernando Simões disse ao Brazil Journal que o resultado mostra a resiliência da receita e que as margens da companhia independem do cenário macroeconômico.
“Todos os nossos negócios estão dentro da economia real, do dia-a-dia das pessoas. Mas temos uma diversificação que permite que, quando um negócio vai mal, outro compense,” disse ele. “O carro popular, por exemplo, está esfriando, mas o de luxo está andando. O caminhão está um pouco mais difícil, mas o agronegócio está indo bem.”
No trimestre, o lucro líquido da Simpar teve uma queda relevante, de 77%, para apenas R$ 77 milhões.
Segundo Fernando, essa queda teve a ver basicamente com a despesa financeira, que aumentou muito no último ano com a alta da Selic e o aumento do endividamento da companhia.
A companhia – um dos maiores cases do Brasil de crescimento por aquisição – também viu sua alavancagem subir de 3,5x o EBITDA para 3,7x, aproximando-se do limite dos covenants da dívida (que é de 4x).
Fernando disse que o objetivo da Simpar é trabalhar menos alavancada, “mas estamos tranquilos com esse nível de alavancagem por conta dos investimentos que fizemos e que ainda não estão aparecendo.”
No ano passado, a Simpar fez um capex (que não considera os M&As) de R$ 13,5 bilhões, com 98% desse montante indo para a compra de caminhões, automóveis, máquinas e equipamentos.
Segundo o CEO, parte importante desses ativos ainda não entrou em operação, o que faz com a receita atual não represente todo o potencial da companhia. Conforme esses ativos forem chegando na maturidade, a expectativa é que o EBITDA aumente, ajudando a reduzir a alavancagem.
Quando a Simpar compra um caminhão, ela leva em torno de 90 a 100 dias para conseguir começar a alugá-lo, já que precisa transportá-lo da fábrica e colocar os implementos, por exemplo. Além disso, o ativo precisa de cerca de 12 meses para atingir seu potencial máximo de receita.
Denys Marc Ferrez, o CFO da Simpar, lembra ainda que a alavancagem do primeiro trimestre traz uma fotografia extraordinária da Vamos, que faz a locação e revenda de caminhões e máquinas agrícolas.
Normalmente, a Vamos opera com três meses de estoque de caminhões em fase de implementação. Nesse tri, o estoque dela equivalia a seis meses de implementação, o que afetou a dívida líquida.
“A Vamos fez uma compra extraordinária no final do ano para se antecipar a mudança do euro 5 para o euro 6, que vai tornar os caminhões mais caros,” disse ele. “Se tirássemos esses R$ 1,5 bilhão de ativos extraordinários do balanço, nossa alavancagem teria sido uns 0,3 pontos menor.”
Outra forma de reduzir a alavancagem, segundo o CEO, seria diminuir o capex este ano, já que muitos dos investimentos necessários já foram feitos no ano passado.
“Ano passado, fizemos muito capex e muitas aquisições. Não temos necessidade de fazer tanto capex este ano. Podemos reduzir o capex e olhar mais oportunidades de M&A, por exemplo,” disse ele.
No primeiro tri, o capex da Simpar já reduziu drasticamente. A companhia investiu apenas R$ 290 milhões em termos líquidos, uma queda de 88% em comparação ao mesmo período do ano passado e de 95% em relação ao quarto tri.
Esse capex mais baixo teve a ver, em parte, com uma grande venda de ativos na Movida, que reduziu sua frota em 13 mil veículos para aumentar a eficiência e os retornos da operação. (Excluindo essa venda, que levantou R$ 625 milhões, o capex da Simpar ainda teria sido menor que no mesmo tri do ano passado).
O resultado das controladas da Simpar teve uma dinâmica semelhante ao resultado da holding — com a receita e o EBITDA subindo, e o lucro, caindo.
A única que conseguiu crescer em todos os indicadores foi a Vamos, que aumentou sua receita em 78%, o EBITDA em 82% e o lucro líquido em 39%, com uma queda de 2,8 pontos na margem líquida.