O real tem recuperado terreno e há espaço para se valorizar ainda mais frente ao dólar, afirmam os economistas do Credit Suisse Brasil. Pelos fundamentos da economia, a cotação da moeda já poderia estar ao redor de R$ 4,80. 

A melhora das últimas semanas se deveu em grande parte ao enfraquecimento do dólar no mercado internacional. Mas para o real continuar se fortalecendo, o Brasil precisa reduzir as incertezas na política fiscal – e isso depende da credibilidade do novo arcabouço – e na política monetária – o que depende da definição da meta de inflação e dos novos diretores do BC. 

11137 b935f643 d806 4ea2 f1b1 20e07db79280“Tem espaço para uma melhora do real? Sim, mas agora dependerá dos fatores domésticos,” disse Solange Srour, a economista-chefe do banco.

Quando se levam em conta os fundamentos, como contas externas e juros, o real já poderia estar mais apreciado, não fossem as incertezas geradas por Brasília.

Para que o dólar continue em queda no Brasil, o mercado precisará ter mais convicção de que as regras fiscais do ministro Fernando Haddad ficarão de pé.

Pelas contas da economista, a equipe econômica assegurou algo em torno de R$ 50 bilhões de receita adicional. Faltam “só” R$ 100 bilhões.  

Uma outra incerteza sobre os mercados é a definição da meta de inflação para os próximos anos, o que deve ser decidido na reunião do Conselho Monetário Nacional de 29 de junho. 

“Se a meta não for alterada, sendo mantida em 3%, isso pode apreciar o real pelo aumento da confiança no País,” diz Solange. “Mas se a meta for ampliada, ficará óbvio que houve uma opção por mais inflação.” 

Por fim, o mercado aguarda a definição dos novos diretores do Banco Central. Duas vagas estão abertas e outras duas cadeiras da diretoria ficarão vagas até o fim do ano. Em 2024, portanto, quatro novos diretores estarão no Copom.

Os nomes escolhidos para a diretoria e a decisão sobre a meta a ser perseguida vão indicar se o governo será mais ou menos frouxo na política monetária – com impactos sobre a cotação da moeda brasileira, diz o CS. 

Na visão do banco, existe uma tendência de continuidade do enfraquecimento externo do dólar, “mas o Brasil terá que se esforçar mais se quiser capturar essa queda,” disse Solange.

O CS comparou o desempenho do real com uma cesta de 19 moedas de países emergentes. Em 2023, a moeda brasileira está entre as que tiveram a melhor performance em relação ao dólar.

O real teve uma alta de 6% desde o início do ano, ficando atrás apenas de quatro moedas emergentes, entre elas o peso do México – um país cujas exportações têm sido beneficiadas pela realocação nas cadeias de produção, o nearshoring.   

Mas… “a despeito da significativa melhora neste ano, quando comparado com 19 países emergentes, o real ainda é a moeda com o quinto pior desempenho desde o início da pandemia,” escreveu o time do CS num relatório enviado a clientes.

Ainda falta terreno para a combalida moeda brasileira recuperar as perdas sofridas sobretudo em 2020 e 2021, quando apenas as moedas de países como a Turquia e Argentina, onde impera o descontrole monetário, tiveram variações mais negativas do que o real.