Um grupo de alunos da FGV está avançando numa competição global que envolve 6.200 alunos de 1.000 universidades em 98 países.
A competição – o CFA Institute Research Challenge — é dividida em quatro etapas: a local, a sub-regional (no caso dos brasileiros, a América do Sul), a regional (que engloba todo o continente americano), e a global.
O grupo da FGV já venceu todas as etapas e agora vai participar da final global na Polônia, em 16 de maio, onde vai competir com grupos de outras cinco universidades.
Essa é a terceira vez que o Brasil chega à final da competição, que acontece desde 2008. A FGV foi finalista em 2009, e a Poli, em 2020. Mas nas duas vezes, o Brasil foi derrotado na última etapa.
O desafio consiste basicamente em defender uma tese de investimento para uma ação, dando a recomendação (compra, venda ou neutro), o preço-alvo e explicando a lógica por trás.
Os estudantes Bruno Greve, João Salles, Isabela de Faria, Fernando Magalhães e Victor Santos recomendaram a ‘compra’ de Suzano, com um preço-alvo de R$ 67.
Na época em que escreveram o relatório, em dezembro, isso representava um upside de 27%. De lá para cá, a ação já subiu mais de 20%.
Em cada etapa do desafio, o grupo tem que apresentar o mesmo material, podendo fazer apenas ajustes pontuais no relatório. Na final, portanto, terão que defender a mesma tese de Suzano.
Bruno Greve, o líder da equipe, disse ao Brazil Journal que a recomendação de Suzano se baseou em quatro pilares principais.
“Por estar no Brasil, a Suzano tem um ‘moat’ geográfico que é do custo de celulose,” disse ele. “Tem vantagens climáticas que não podem ser replicadas por empresas de outros países e que não estão sendo refletidas no preço hoje.”
Quando escreveram o relatório, a Suzano negociava a um desconto de 20% no múltiplo EV/EBITDA em relação aos peers globais, em comparação a um prêmio histórico de 17%. De lá para cá, o gap fechou e o desconto hoje está perto de zero.
Os estudantes achavam também que havia um pessimismo exagerado em relação ao preço da celulose por conta das adições de capacidade. “Fizemos um modelo de oferta e vimos que depois de 2026 o mercado já estaria balanceado considerando um crescimento orgânico da demanda.”
O terceiro ponto por trás da tese foi a conclusão do Projeto Cerrado, que os estudantes calcularam que iria aumentar em 2 pontos percentuais a margem EBITDA da divisão de celulose da companhia.
“Isso não estava sendo precificado por conta da alavancagem alta do projeto,” disse Bruno.
Por fim, o grupo fez uma análise das vantagens ESG da Suzano, concluindo que ela poderá se beneficiar muito dos mercados de crédito de carbono e de green bonds.
Os cinco estudantes que participaram do desafio fazem (ou já fizeram) parte do clube de investimentos da FGV, uma iniciativa criada pela empresa-júnior da faculdade para dar aos alunos uma experiência prática de gestão de recursos.
Criado há 10 anos, o clube tem R$ 2,5 milhões hoje e é gerido pelos próprios alunos, que todo ano montam um portfólio de ações, que é acompanhado diariamente por eles.
Bruno disse que ter feito parte do clube de investimentos foi fundamental para o bom resultado no CFA Challenge.
“O clube nos dá uma ótica de buyside na análise de investimentos,” disse ele. “Ajuda a gente a não fazer uma análise de algo que não vai ser relevante na tomada de decisão. Focamos só em coisas que podem mexer o papel e gerar o retorno do investimento.”