A Federação Única dos Petroleiros (FUP) está tentando expor e intimidar publicamente executivos da Petrobras envolvidos na venda de ativos da empresa na gestão anterior.

Num post em seu Instagram esta semana, o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, criticou a privatização da Refinaria Landulpho Alves (RLAM) e partiu para cima de Daniel Pedroso, o atual gerente executivo de energia renovável da Petrobras.

“O Daniel Pedroso estava no meio dessa baderna toda. Tá na hora dele sair. Ele ajudou em todo esse processo de privatização e ainda é gerente executivo na Petrobras. Infelizmente, o diretor Maurício Tolmasquim, companheiro nosso, professor da UFRJ, que está à frente da diretoria de transição energética, colocou o Daniel Pedroso do seu lado,” disse o dirigente, no vídeo.

Bacelar em seguida pede a Tolmasquim para “abrir o olho” e “tirar esse cara do seu lado.”

No vídeo, o dirigente diz que um relatório da Controladoria Geral da União (CGU) viu “problemas” no processo de desinvestimento. O que Bacelar não diz é que o relatório é de 2020, portanto antes da venda, e continha recomendações sobre as premissas para o desinvestimento da RLAM. O documento foi feito ainda na fase preliminar do processo, que no final atendeu a todas as recomendações.

“A CGU sequer analisou a finalização do desinvestimento. Essa fiscalização foi feita pelo TCU, que aprovou integralmente todo o processo, incluindo o timing e os valores,” um executivo próximo à gestão passada disse ao Brazil Journal.

Dias atrás, sob pressão da FUP, a Petrobras abriu uma investigação interna sobre a privatização da RLAM.  Bacelar aproveitou a deixa para colocar Pedroso sob suspeição.

“Ele não tem por que estar numa função gerencial,” o sindicalista disse no Instagram. “Já deveria estar fora. Inclusive mais do que nunca, agora passando por um processo de investigação, ele tem que ser afastado das suas funções imediatamente, porque ele pode esconder informações.”

Os movimentos da FUP estão chamando a atenção de acionistas minoritários da empresa.

“Investigar o que quer que seja é direito de toda nova administração, mas estão transformando isso numa perseguição às pessoas envolvidas na gestão anterior, uma caça às bruxas, uma perseguição ideológica com o objetivo de coibir pessoas que têm uma visão de mundo diferente,” disse um acionista. “Isso é péssimo para a moral interna da companhia.”

Para ele, o posicionamento da FUP é um “revisionismo estéril”, já que o TCU já aprovou todo o processo.

“Quer investigar? Faz parte, não tem problema. Mas querer transformar isso em uma narrativa e uma destruição de currículo, aí não é correto.”

Pedroso não é o único executivo de carreira da Petrobras que sofre ataques constantes da FUP.  A tática é sempre a mesma: narrativas baseadas em meias-verdades e recortes ideológicos, seguidas por tentativas de intimidação e cerceamento da carreira.

Fontes da Petrobras, ex-executivos da empresa e pessoas com trânsito junto à companhia narraram ao Brazil Journal casos de executivos que foram ou estão sendo torpedeados pela FUP.

Rafaela Guedes, que tem 18 anos de Petrobras e até junho era gerente executiva de responsabilidade social, está de licença da companhia – exilada como senior fellow no CEBRI depois de críticas de sindicalistas.  Foi chamada de ‘Barbie fascista’ por ter liderado um projeto de doação de botijões de gás na época da pandemia. O projeto foi aprovado pelo conselho da Petrobras no final de 2021, inclusive pelo comitê de minoritários. Como parte da doação aconteceu em 2022, o sindicato qualificou o projeto de “eleitoreiro.”

Eduardo De Nardi, que foi gerente executivo de Desempenho Empresarial na época dos desinvestimentos e hoje é o RI da empresa, também está na mira do sindicato.  Era ele quem fazia os valuations para os processos de M&A. Hoje é citado em posts do sindicato como alguém que deveria ser banido do quadro de executivos.

Andrea Colares foi gerente geral responsável pelo desinvestimento do downstream, o que inclui a área de refino, aquela onde os sindicatos são mais fortes. Segundo executivos da Petrobras, Andrea está sofrendo assédio moral. Hoje trabalha como engenheira da área de E&P, sem um cargo de liderança. Candidatou-se a uma posição na área de risco da empresa e foi boicotada.

Taísa Maciel, que era gerente executiva do jurídico da Petrobras desde 2014, licenciou-se da companhia e está fazendo o MBA no MIT.  Foi responsável pelas investigações internas resultantes da Lava Jato.

A FUP foi a principal fonte para um artigo publicado em novembro na Carta Capital.  O título – Quintas-colunas – chamava os executivos de traidores, e a matéria tachava boa parte dos executivos de “bolsonaristas”.

“São pessoas de notável saber que desempenharam suas funções de forma honesta, transparente, correta, e hoje estão sendo perseguidas,” disse um executivo da empresa que se aposentou recentemente. “Tudo isso é para colocar os amigos do sindicato em posições relevantes da companhia.”

Os sindicalistas batem até em Joelson Mendes, o diretor mais importante da empresa, que já cuidou de águas ultraprofundas e hoje está como diretor de E&P.  Segundo executivos, Joelson está sendo criticado por manter em sua área pessoas que já estavam numa posição de liderança na gestão anterior – não deixando espaço para que o sindicato influa na área.

Na troca de governo, em meio a especulações sobre quem seria o novo diretor de E&P, os sindicalistas se voltaram contra Mario Carminatti, um dos geólogos mais sêniores do setor e um dos pais do pré-sal, com 30 anos de Petrobras.  Seu pecado: sua esposa havia feito uma postagem nas redes sociais favorável a Jair Bolsonaro.

A FUP também já investiu contra conselheiros da empresa. Em outubro, entrou com um processo na CVM contra Marcelo Gasparino, um conselheiro independente.

A acusação: manipulação de mercado.

A realidade: Gasparino deu uma declaração na imprensa se posicionando contrariamente à decisão do conselho da Petrobras de mudar o estatuto da empresa, permitindo indicações políticas para cargos de senior management e do conselho, além de outras mudanças.

Os ataques da FUP a executivos que trabalharam na gestão anterior da empresa deveriam convidar a esquerda brasileira, que gosta de se imaginar a dona do monopólio da virtude, a se perguntar: “É correto perseguir executivos que lideraram iniciativas aprovadas pela diretoria e o conselho da empresa?  É correto personalizar os ataques, correndo o risco de um ciclo vicioso de perseguições a cada mudança de governo?  É defender os direitos humanos tentar cercear a carreira de executivos por terem participado em administrações ideologicamente diferentes da atual?”

E por fim, “Quando você persegue o outro com base em ideologia, quem é o fascista?”