A era em que você vai ligar a luz de casa ou acender o fogão apenas com o pensamento está cada vez mais próxima.

O Facebook acaba de comprar uma startup que está desenvolvendo uma tecnologia que permite às pessoas controlar um computador ou máquina usando apenas a mente.

A CTRL-Labs criou uma pulseira que capta os sinais neurais, decodifica-os e depois os converte num sinal digital que pode ser compreendido e processado pelos computadores.

Segundo a Bloomberg, o Facebook desembolsou entre US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão pelo controle da empresa. 

Na prática, o sistema da CTRL-Labs consegue determinar qualquer movimento que a pessoa esteja pensando em fazer, mesmo que ela ainda não tenha se movido fisicamente. 

“Suas mãos podem estar no bolso, atrás de você,” Thomas Reardon, o co-fundador e CEO da startup, disse numa conferência do setor em dezembro. “É a intenção de se mover, e não o movimento em si que controla o avatar.”

Reardon, um programador que liderou a equipe que criou o Internet Explorer na Microsoft e depois se especializou em neurociência, fundou a empresa em 2015 com dois colegas de laboratório. De lá pra cá, a CTRL-Labs levantou mais de US$ 67 milhões com investidores como a Spark Capital e o Founders Fund, além de fundos do Google e da Amazon. 

Um dos interesses do Facebook é, eventualmente, incorporar a tecnologia para aprimorar seus óculos de realidade aumentada e virtual. O Facebook já fez outros investimentos relevantes na área. Há dois anos, anunciou que estava desenvolvendo uma tecnologia que um dia permitirá que as pessoas transformem seus pensamentos em texto.

A CTRL-Labs está tentando desbravar um mercado disputado por empresas como a Neuralink, de Elon Musk, e a Kernel, de Bryan Johnson, o fundador da Braintree. Mas sua tecnologia tem um diferencial importante: ela consegue captar os sinais neurais sem a necessidade de inserir um chip na pele ou conectar eletrodos na cabeça, concentrando-se nos sinais que controlam os movimentos e viajam através da coluna vertebral. 

Além de menos invasivo, o método torna mais fácil o desenvolvimento de um aparelho de Brain-Machine Interface (nome dado às tecnologias que tentam conectar o cérebro humano às máquinas) que seja universal, servindo para qualquer pessoa.  

Patrick Kaifosh, o outro fundador e chief science officer da empresa, explicou numa entrevista recente que os eletrodos que lêem sinais neurais acabam obtendo resultados diferentes para pessoas diferentes, já que no córtex cerebral os neurônios podem estar perto um do outro e mesmo assim sinalizar coisas completamente distintas. 

Os neurônios que controlam os músculos, por outro lado, são mais organizados por região, gerando uma certa consistência entre as pessoas. “Em última instância, vemos isso se tornando um controle universal para todas as interações que as pessoas tenham com seus aparelhos tecnológicos,” disse ele. 

O primeiro produto da CTRL-Labs foi lançado em dezembro do ano passado e funciona como um developer kitsendo usado apenas por programadores para conectar a tecnologia da startup a programas, jogos e outras soluções. (Um produto para o consumidor final ainda não saiu do papel). 

A startup nasceu quando Reardon e outros dois PhDs em neurociência, Kaifosh e Tim Machado, decidiram estudar como os neurônios motores  que se estendem através da medula espinhal e se espalham pelos músculos do corpo  poderiam ajudar a desenvolver uma solução não invasiva de Brain-Machine Interface. 

Os três criaram um experimento no qual removeram as medulas espinhais de ratos e as mantiveram ativas para tentar entender o que ocorria com os neurônios motores, descobrindo que eles são extremamente organizados e coerentes.

“Quando eu vejo esses anúncios sobre técnicas de escaneamento cerebral e a obsessão pela abordagem ‘disembodied-head-in-a-jar’ da neurociência, sinto que eles não estão entendendo como todas as novas tecnologias científicas são comercializadas,” Reardon disse numa entrevista à Wired em 2017. “Estamos procurando enriquecer as vidas, dar mais controle sobre as coisas ao nosso redor, e mais controle sobre esse pequeno dispositivo estúpido no seu bolso”.